A Ucrânia precisa de 820 mil milhões de dólares (quase 778 mil milhões de euros) para se reconstruir na sequência da invasão russa há um ano.
Este é o valor total do investimento necessário até 2032 para o país recuperar da guerra e que está dependente da coordenação de esforços entre o Banco Europeu de Investimento (BEI), o Banco Mundial e o Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento, assim como de outras instituições internacionais.
Este investimento está dividido em três fases, sendo que a primeira termina já no final de 2023 e prevê a aplicação de 110 mil milhões de dólares em 30 projetos. A segunda duplica o financiamento, para 210 mil milhões, para distribuir por 60 projectos, entre 2024 e 2027. A última fase, de longo prazo, visa aplicar 500 mil milhões em 80 a 90 projectos, até 2032.
Segundo um estudo divulgado esta sexta-feira, a invasão russa já reduziu o PIB da Ucrânia, a riqueza criada pelo país, em 30%. Este é o resultado de um ano de guerra, de acordo com este trabalho do BEI e do Boston Consulting Group (BCG).
As duas instituições concluem ainda que "todos os setores foram gravemente afetados, em particular a indústria pesada, a energia e o comércio", e que para garantir uma rápida recuperação será essencial o “alinhamento entre a Ucrânia, a União Europeia e os credores e os 'players' internacionais do setor privado”.
Este trabalho, intitulado 'Apoiar a Ucrânia: Um Estudo sobre Potenciais Estratégias de Recuperação para a Ucrânia', acrescenta ainda que as necessidades na Ucrânia “são enormes e o apoio e a reconstrução são urgentemente necessários, mesmo à medida que a guerra continua.”
No entanto, “muito provavelmente” estará a chegar ao país menos financiamento do que o necessário. E mesmo o que chega à Ucrânia “pode ser demasiado para o que consegue absorver, uma vez que tem uma capacidade de absorção potencial de 70 mil milhões de dólares”.
É, por isso, fundamental apoiar o “aumento da sua capacidade de absorção técnica e financeira” para uma recuperação bem-sucedida.
Ainda segundo este estudo, a guerra deixou 6 milhões de pessoas deslocadas dentro do país, danificou infraestruturas e perturbou a indústria, especialmente no leste da Ucrânia.
O ciclo de empréstimos está estrangulado, com “a dispersão dos procedimentos de compra, a falta de capacidade de absorção e a falta de partilha de riscos”. Resta a concessão direta de empréstimos “ao beneficiário adequado, ao abrigo de vários esquemas de partilha de riscos, para permitir uma reconstrução eficaz”, defende o estudo.
Há ainda um retrocesso de anos no progresso económico na Ucrânia, com a diminuição significativa do valor mensal da exportação de bens no início da guerra (-62%) e no envio de cereais (-83%).
As receitas das pequenas e médias empresas caíram a pique (79%), a maioria não consegue pagar salários (66%) e algumas foram obrigadas a mudar de local (31%).
Além de financiamento, as instituições internacionais podem ainda ajudar a Ucrânia com a “partilha de riscos, transferência de conhecimentos e de capacidade, alinhamento de estratégias de compras, transparência e mitigação da corrupção, entre outras”, refere ainda o estudo.