O presidente da Câmara de Aveiro, na altura um apoiante de Rui Rio, mostrava assim o desagrado pela candidatura de Montenegro à liderança do PSD. Este sábado carregou com recados a intervenção de seis minutos que fez ao Congresso extraordinário de Almada.
Ribau Esteves agora também não declara amor à direção nacional do PSD, mas reconhece que o partido está num " quadro de jogo no terreno todo" e que é tempo de ser "uma equipa toda". Com o autarca a dar a estratégia para ganhar as eleições legislativas de março: "É preciso marcar bem a diferença do PS"
"É muito bonito dizer ao líder do partido que temos de ter um grande programa e temos de ser positivos, mas tenhamos a certeza absoluta que se não conseguirmos que fique claro nos portugueses a miséria do acumular de oito anos, aquilo que é o recorde de impostos e o empobrecimento da qualidade dos serviços públicos, se isto não assentar devidamente nos portugueses pintem lá o programa da cor que vocês quiserem, mas ninguém vos vai dar razão", avisou o autarca de Aveiro.
A segunda parte da estratégia é tirar o tapete aos argumentos do Chega. "É o PSD e o nosso líder que tem de dizer 'basta' a uma série de coisas que vão perturbando a vida dos portugueses", diz Ribau.
O autarca pede que se entre pelo argumentário de Ventura e se diga "basta da falta de autoridade dos professores na sala de aula, basta de uma imigração de porta aberta desregrada, que nos causa problemas graves, basta de pagar impostos recorde".
Resumindo, Ribau Esteves pede que seja o PSD a assumir-se como "alternativa credível ao PS" e dizer "basta, porque há outros que dizem uma palavra sinónima, que existem e são democratas".
Montenegro não tem negado que o partido liderado por Ventura não seja democrata, mas acusa-o de "imaturidade" e nega-se a fazer um acordo pós-eleitoral com o Chega, caso precise formar maioria parlamentar após as eleições.
"Aquela conversa de que há partidos que não são democratas é uma estupidez", reforça Ribau Esteves, que acrescenta que o PSD tem "de ganhar aqueles que apostam na palavra sinónima de 'basta', mas temos de lhes ganhar pelos argumentos da política e da razão, é aqui que lhes temos de ganhar e não a dizer que não são democratas", insiste.
Tal como fez Luís Montenegro na intervenção que abriu o Congresso de Almada, Ribau Esteves carregou nas tintas contra Pedro Nuno Santos, um dos candidatos à liderança do PS. "Quem de nós não demitia um ministro que indemnizou por sms uma rapariga que depois vai a secretária de Estado?", questionou o autarca.
Ribau tocou depois ao de leve no caso judicial Influencer que levou à demissão do primeiro-ministro. "A crise política que estamos a viver não nasceu de uma investigação criminal, mas da demissão de um primeiro-ministro com uma maioria parlamentar que apodreceu, tamanho foi o lixo que acumulou debaixo tapete, não demitiu quem tinha de demitir".
Nem o ex-ministro João Galamba se safou de passar pela intervenção do autarca de Aveiro. "Quem não demite tanta gente que faz tanta asneira, um ministro que tem os seus assessores à porrada no gabinete?", referindo-se ao episódio do computador alegadamente roubado no Ministério das Infraestruturas.
A ala afeta a Rui Rio, de que Ribau Esteves faz parte, assume agora que o partido precisa de cola para as três eleições que o PSD terá de enfrentar em 2024. "Agora mais importante do que nunca é a palavra unir", assume o autarca, que avisa: "Temos de ir a todas, lutar em cada terra", rematando com um "Luís, este é o teu tempo", dirigindo-se a Montenegro.