A poucos dias do regresso às aulas à distância, um grupo de voluntários criou o projeto "Computador Solidário", com o objetivo de angariar computadores para alunos sem acesso a estes equipamentos.
Em menos de 24 horas, o projeto recebeu mais de 400 pedidos e cerca de 500 equipamentos foram oferecidos.
O projeto é dos mesmos autores do projeto "Cama Solidária", que incentiva proprietários de caravanas ou de casas próximas de hospitais a emprestarem os seus veículos e imóveis a profissionais de saúde, para descansarem. Em menos de duas semanas, conseguiram reunir 600 caravanas e 200 casas doadas, para um total de 51 pedidos de profissionais de saúde. Mais de 200 voluntários estão já a a trabalhar no projeto, e há mais de três mil voluntários inscritos. O projeto conta com o apoio da EMEL, da Polícia Municipal de Lisboa e de várias empresas privadas.
Atrás das duas iniciativas está Ricardo Paiágua, um dos fundadores da agência de criatividade UppOut, que confessa à Renascença ter feito três "diretas" nos últimos dias, para gerir a avalanche de solidariedade que se seguiu às ideias.
A ideia do projeto de recolha de computadores surgiu numa conversa no grupo de Whatsapp que os voluntários da "Cama Solidária" partilham.
"Eu disse no grupo 'bora lá fazer isto'. Passado um minuto, uma das voluntárias mandou logo uma mensagem a dizer 'olha, Ricardo, sou uma das milhares que precisam, porque ando a ter aulas no telemóvel e precisava mesmo de um computador'", conta o dinamizador da iniciativa.
A voluntária, que está no ensino secundário, recebeu o seu computador quase instantaneamente.
O grupo construiu um site que faz a ponte entre quem quer dar e quem precisa de receber.
Para fazer a distribuição, os voluntários estão a usar as caravanas das Camas Solidárias, espalhadas por vários hospitais da região de Lisboa, como Amadora-Sintra, Cascais e Loures e também em Matosinhos, no hospital Pedro Hispano.
Para quem está fora das duas maiores cidades do país, os voluntários promovem o encontro entre quem precisa e a pessoa que quer doar.
"Fazemos por código postal. Se eu moro em Castelo Branco e quero doar; se há uma pessoa na mesma cidade que quer receber, fazemos com que falem e se encontrem, quase como uma venda de um portal de artigos em segunda mão", explica Ricardo.
Para evitar abusos, o grupo pede aos beneficiários que partilhem a sua situação e que assinem uma declaração sob compromisso de honra que ateste que necessitam do equipamento para a escola.
Questionado sobre como arranjará maneira de gerir tantos pedidos, Ricardo diz que "capacidade arranja-se sempre, o português está mesmo com espírito de ajudar".
Há já figuras públicas, como António Raminhos, a divulgar causa e várias outras a começar a aderir. "Está a haver um espírito de solidariedade brutal", afirma o criador da iniciativa.
As escolas regressam na próxima semana ao ensino à distância, mas há milhares de alunos sem equipamentos eletrónicos que permitam o acompanhamento das aulas.
O ministério da educação já distribuiu 100 mil computadores pelas escolas e comprou mais 335 mil, que deverão chegar às escolas durante o segundo período e terão como prioridade os alunos inscritos na Ação Social Escolar. No entanto, não há ainda uma data concreta para a distribuição destes equipamentos.