Níveis alarmantes de fadiga pandémica foram detetados num estudo que está a ser realizado junto da população portuguesa e que inclui diferentes fases de confinamento para conter o contágio por covid-19, disse à agência Lusa a coordenadora.
“São alarmantes, sobretudo quando queremos comunicar às pessoas que vão continuar ou confinadas e a terem de cumprir muitas medidas restritivas”, afirmou Ivone Patrão , do ISPA-Instituto Universitário.
No âmbito do projeto PsiQuaren10, foi desenvolvido um inquérito "online": 82,2% dos inquiridos revelaram níveis de fadiga pandémica moderada ou elevada/severa.
O estudo teve início em novembro, na sequência do conceito de fadiga pandémica lançado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
“Olhando para aquilo que acontece na segunda vaga e nesta terceira há diferenças, porque numa estamos num confinamento parcial e noutra estamos num confinamento total e há uma variável aqui que discrimina a forma como as pessoas se sentem”, explicou a coordenadora do trabalho.
As pessoas mostraram-se “mais cansadas, com níveis superiores de fadiga pandémica “ em janeiro e fevereiro.
Foram apuradas respostas de 1.854 adultos, a maioria da região de Lisboa, Setúbal e Porto, e o estudo continua.
Em relação ao género e à idade, foi possível aferir que as mulheres apresentam níveis de fadiga pandémica superiores aos homens e que os mais novos apresentam níveis superiores aos mais velhos.
De acordo com os resultados apresentados, estar em isolamento/quarentena, considerar o teletrabalho mais cansativo, sentir que as notícias sobre a pandemia de covid-19 têm um impacto negativo sobre o próprio e ter amigos/familiares que testaram positivo contribuíram para níveis superiores de fadiga pandémica.
“Temos de saber comunicar bem e de uma forma que seja eficaz para pessoas que já estão cansadas e desgastadas, com todo o tempo que esta pandemia já leva”, defendeu. “Este é um dado preocupante”, acrescentou.
Por outro lado, referiu Ivone Patrão, ao estarem mais vulneráveis, as pessoas têm mais dificuldade nas tomadas de decisão, seja para a sua própria saúde ou dos que lhes estão próximos. “Seja até para decisões da sua vida quotidiana”, exemplificou a psicóloga.
“É um facto que temos de tratar da saúde física dos portugueses, mas temos de tratar também da saúde mental”, sustentou.
Para Ivone Patrão, a saúde mental é uma área que vai precisar de investimento e de “intervenção à medida”.
“É importante que se saiba que um dos fatores que está aqui por trás é esta questão da fadiga pandémica”, alertou especialista.
O desafio será também saber comunicar com pessoas em fadiga pandémica, para que continuem a aderir a medidas preventivas. “A forma tem de ser outra, tem de ser pelo exemplo positivo, valorizar todos os esforços que as pessoas estão a fazer”, preconizou.