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Jerónimo de Sousa tem mandato como secretário-geral do PCP até ao fim de 2020 e não tenciona “calçar as pantufas”. Em entrevista ao programa Hora da Verdade, o líder comunista promete continuar a dar o seu contributo ao partido mesmo que as responsabilidades sejam alteradas.
Falou em reposição de esperança. Não há o risco, como disse na noite das autárquicas, de essa reposição de esperança ser creditada ao PS nas legislativas?
Não estabelecemos uma ligação direta entre o resultado das autárquicas e a nova fase da vida política nacional. Esse fator pode ter pesado em algumas câmaras que tínhamos ganho por poucos e acabámos a perder por poucos. Eu dou estes exemplos: perdemos Almada, mas porque é que reforçámos a maioria absoluta em Setúbal? Perdemos Alcochete, porque é reforçámos a votação em Sesimbra? Não foi o fator nacional que pesou determinantemente. Agora, em relação à capitalização destes avanços, eu admito que o PS possa naturalmente usá-los como fator de mobilização eleitoral, mas cabe-nos a nós demonstrar e vamos demonstrar que sem a intervenção do Partido Comunista muitos desses avanços não teriam sido possíveis.
O programa do PCP para as legislativas vai dizer em que moldes é que o partido está disponível para acordos? Ou isso é uma questão pós-eleitoral?
É evidente que a melhor prova do pudim é comê-lo (risos). Primeiro temos que participar nas eleições e os resultados determinam muito aquilo que acontecerá em termos de projeto. Aquilo que vamos afirmar com muita clareza é que é possível uma vida melhor repondo rendimentos e direitos de quem trabalha ou trabalhou. A ideia de que não estamos condenados a retrocessos e injustiças que continuam a prevalecer. Os direitos dos trabalhadores têm sido muitas vezes a fronteira entre a esquerda e a direita. E em relação à legislação laboral, o PS fez uma opção. Convergiu com o PSD e o CDS em matérias importantíssimas para a vida dos trabalhadores. Essa rutura tem que ser feita com a apresentação de uma alternativa. E para isso é preciso mais força.
Estou a vê-lo a ir para as curvas, como uma vez já disse. Este vai mesmo ser o último mandato como secretário-geral do PCP?
(risos) Decorrendo tudo normalmente, ainda faltam dois anos para o futuro congresso. Estou a pensar que isto é uma tarefa exigente e aquilo que se faz com 70 anos não é a mesma coisa do que quando se tem 30.
Mas aquilo que posso garantir é que não vou calçar as pantufas, se existir uma decisão própria e do meu partido nesse sentido. Irei continuar a dar a minha contribuição. Podem-se alterar as responsabilidades, isso não altera a minha força anímica em torno do ideal e do projeto que defendo para Portugal.