Uma jovem da cidade de Kramatorsk, leste da Ucrânia, vai transportar a bandeira da Ucrânia na abertura da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). A informação foi confirmada pelo padre Waldemar Pawelec, que coordena a operação de transporte dos jovens ucranianos para LIsboa.
“ Este momento será simbólico da parte dos jovens da Ucrânia. Muitos deles não podem ir a Lisboa. Estamos em guerra e este é o caso dos rapazes a partir dos 18 anos", sublinha o sacerdote polaco em declarações à Renascença, assinalando as limitações que o conflito bélico impõem à participação ucraniana.
549 jovens ucranianos estão já inscritos para a Jornada Mundial da Juventude, num contingente que ainda pode aumentar, como admitiu o presidente da Fundação Jornada Mundial da Juventude. D.Américo Aguiar visitou a Ucrânia durante três dias, encontrando-se com autoridades religiosas locais e com grupos de jovens e peregrinos católicos.
" 309 jovens vão daqui da Ucrânia e outros 240 partem de outros países da diáspora ucraniana da Alemanha, dos Estados Unidos , de Inglaterra, da Polónia -de onde vai um grande grupo - e de Itália “, explica o sacerdote polaco que foi o anfitrião do Bispo Auxiliar de Lisboa na sua visita à Ucrânia.
Donbass representado em Lisboa
Os jovens seguem maioritariamente em 5 autocarros e têm que pagar as despesas de alojamento durante o percurso, tendo recebido um apoio da Igreja e de outros parceiros para adquirir os pacotes de peregrino na JMJ em Lisboa.
"Em relação aos jovens peregrinos, tomámos por estes dias a decisão de reforçar a presença de jovens ucranianos com um aumento da ajuda material para que mais jovens possam participar", explicou o bispo auxiliar de Lisboa.
Entre greco-católicos e católicos romanos, os grupos provêm essencialmente de Lviv, de Kiev e também há um grupo de jovens peregrinos que segue de Zaporizhia, no Leste da Ucrânia, onde se incluem católicos com origem em zonas ocupadas pelos russos como Donetsk, no Donbass, e que ali encontraram refúgio.
JMJ não vai "violentar" ucranianos para dialogarem com russos
No início da sua viagem à Ucrânia, respondendo a uma pergunta da Renascença , D.Américo Aguiar admitiu dificuldades no encontro entre jovens ucranianos e russos na Jornada Mundial da Juventude.
"Era bonito colocarmos no mesmo encontro jovens ucranianos e russos, mas o que eu ouço aqui é que ainda é cedo para isso acontecer. É muito bonito e poético sentar à mesa o agredido e o agressor, o assassino e a família do assassinado, mas é preciso tempo. A dor não prescreve, a dor não sara e temos que fazer caminho", declarou no santuário mariano de Zarvanytsia, no centro da Ucrânia.
No último dia da sua presença na Ucrânia, o presidente da Fundação JMJ foi ainda mais taxativo sobre a impossibilidade de um encontro simbólico entre jovens dos dois países.
" Como já disse o Papa Francisco, temos trabalhado discreta e subterraneamente para que fosse possível. Mas trabalhando de mais de perto com os sacerdotes que nos acompanham e com outros responsáveis, ouvimo-los dizer - aqui e em Lisboa - que ainda não é o tempo. Eles têm amigos russos, pessoas muito próximas que querem a paz, mas o olhar, coração a coração, ainda não está preparado para construírem algo de novo juntos à mesma mesa, mãos nas mãos, coração a coração. Querem fazê-lo mas ainda não é o tempo. Pedem-nos para não o forçarmos e, portanto, da nossa parte não haverá mais uma violência deste género com eles. Não podemos acrescentar ainda mais dor a estes jovens, violentando-os, porque o tempo não é este", acrescentou, no final de uma visita à Igreja Ortodoxa de Bucha, onde visitou o local onde foram depositados corpos de civis em valas comuns em Março de 2022.