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A Cruz Vermelha Internacional (ICRC) alertou esta terça-feira para o potencial devastador do novo coronavírus nas populações e sistemas de saúde em África se não forem tomadas medidas urgentes para conter a pandemia de covid-19.
“África tem sido a região mais poupada pela pandemia até agora, mas se não forem tomadas medidas imediatas para conter o vírus, o seu impacto pode ser devastador para as populações e os sistemas de saúde”, defendeu Patrick Youssef, novo diretor regional para África do Comité Internacional da Cruz Vermelha (ICRC, na sigla em inglês).
Referindo que vários países africanos fecharam fronteiras e impuseram medidas de confinamento e recolher obrigatório às populações, Patrick Youssef assinalou que as guerras e conflitos continuam, com consequências devastadoras para as populações que serão agravadas pela nova doença.
“Estamos todos numa corrida contra o relógio para travar a propagação da covid-19”, disse, numa declaração divulgada no 'site' da ICRC, afirmando que a “humanidade inteira se debate com dificuldades e com a perspetiva de uma crise económica e social de proporções imprevisíveis”.
Numa avaliaPatrick Youssef lembrou, neste contexto, a multiplicação das necessidades humanitárias num continente onde não faltam exemplos de dificuldades e desafios para as equipas da Cruz Vermelha no terreno.
No Bukina Faso, disse o responsável pelo ICRC África, a epidemia está a alastrar nas zonas rurais e em algumas cidades, que viram a sua população triplicar por causa dos deslocamentos forçados, será “impossível impor" o distanciamento social e as medidas de higiene por causa do acesso limitado a água e sabão.
No norte do Mali, 93% das infraestruturas de saúde foram destruídos pelo conflito que assola a região, enquanto no resto do país os serviços de saúde não conseguem responder aos surtos de sarampo ou a malária.
Patrick Youssef recordou que, além dos aspetos de saúde, cada epidemia em África tem agravado a segurança alimentar dos sobreviventes, aumentando os riscos de pobreza e fome.
“Muitas famílias nos países em desenvolvimento já gastam mais da metade do seu rendimento em alimentação. Os países que dependem fortemente das importações para satisfazer a procura enfrentam um risco desproporcional de rutura da cadeia de abastecimento. Isto é particularmente preocupante para o acesso à alimentação”, disse.
Youssef admitiu que a Cruz Vermelha Internacional já está a enfrentar grandes desafios em termos de logística de fornecimento de equipamentos e medicamentos, a que acresce a adoção de medidas necessárias para proteger as equipas no terreno.
“Este vírus ataca toda a gente, independentemente da cor, etnia ou classe social. Se não forem tomadas algumas precauções, ninguém será poupado”, afirmou.
“Mais do que nunca, as pessoas que ajudamos diariamente precisam de toda a ajuda que puderem obter agora e depois do fim da pandemia. Esta não é apenas uma crise de saúde, mas uma crise que afeta todos os aspetos da sociedade”, acrescentou.
Admitiu que as missões no terreno serão afetadas e que as equipas já estão a reorientar-se e a adaptar-se para fazer frente à nova realidade, mas reconheceu que não é possível estar em todas as frentes.
“Por isso, queremos criar uma plataforma de intercâmbio com governos, atores nacionais e institutos de investigação presentes no terreno para melhorar a partilha do conhecimento no continente africano. Vamos adotar uma abordagem ‘glocal’ que consistirá em adaptar a estratégia global às condições locais”, anunciou.
Particularmente preocupado com os efeitos desta crise nas zonas de conflito, Patrick Youssef considerou " mais imperativo do que nunca preservar um espaço humanitário neutro e imparcial, de diálogo e, sobretudo, de prevenção para que a epidemia não chegue a zonas onde o acesso aos cuidados básicos de saúde é restrito”.
O número de mortes pela covid-19 em África subiu para 173, com os casos confirmados a ultrapassarem os 5.000 em 48 países, de acordo com as mais recentes estatísticas sobre a doença no continente.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 800 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 40 mil.