O consultor de políticas anti-corrupção e ex-presidente da Associação Transparência e Integridade, João Paulo Batalha, considera que as novas descobertas sobre o envolvimento de políticos de topo a nível mundial em esquemas relacionados com offshore “mostra o funcionamento de uma indústria aos impostos de lavagem de dinheiro sujo”.
A nova investigação do consórcio (ICIJ, na sigla em inglês), chamada "Pandora Papers", pôs a descoberto os "segredos financeiros" de 35 líderes mundiais (atuais e antigos) e de mais de 330 políticos e funcionários públicos, de 91 países e territórios, entre os quais Portugal.
Para João Paulo Batalha os novos desenvolvimentos conhecidos no domingo revelam ainda que esta indústria “captura as legislações e os estados em que o poder político é convidado a beneficiar destas estruturas”.
E acrescenta que o incentivo político para ter mecanismos que impeçam a fuga aos impostos ou até de lavagem de dinheiro sujo desaparece quando é quem lidera os estados que beneficia do esquema.
A nova investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação identificou três políticos portugueses com "segredos financeiros", políticos que o semanário Expresso diz serem Manuel Pinho, Nuno Morais Sarmento e Vitalino Canas.
O mesmo especialista diz esperar que as revelações agora conhecidas sirvam para que a mobilização dos cidadãos que “é indispensável para criar a pressão política necessária para haver reformas”.
Ainda assim teme que “as pessoas se enfastiem de tantas revelações deste tipo e acabam por se tornar indiferentes”.
Batalha afirma também que nos escândalos anteriores é frequente assistir a que vários governos anunciem medidas para combater a opacidade e fuga osa impostos, “mas depois começamos a ver, e muitos dos grandes responsáveis mundiais estão envolvidos nestes negócios e percebemos porque é que tem sido tão difícil politicamente combater estes estratagemas”.
O consultor de políticas anti-corrupção considera que o que é relevante e novo, na investigação da ICIJ, “é a quantidade de responsáveis políticos de praticamente todos os países − ministros, ex-ministros, altos funcionários públicos, chefes de estado, reis, presidentes − que vemos mencionados aqui”.
“Isso tem a relevância enorme que é a de explicar porque é que é tão difícil acabar com as offshore”, resume.
Entre os nomes referidos na investigação estão o rei Abdallah II da Jordânia, os Presidentes de Ucrânia, Quénia e Equador, o primeiro-ministro da República Checa e mais de 130 bilionários (mencionados pela revista Forbes) de países como Rússia, Estados Unidos e Turquia, bem como celebridades, líderes religiosos, membros de famílias reais ou traficantes de droga e bandidos profissionais.