Apesar da emergência sanitária, a rede Cáritas conseguiu manter ativos os principais serviços de apoio e assistência social à população mais carenciada em todo o país, mas a pandemia agravou a situação laboral em muitas regiões, e houve um aumento exponencial dos pedidos de ajuda, sobretudo por parte de quem ficou desempregado ou em situação de lay-off.
“É preciso não esquecer que Portugal já tinha mais de 17% de pessoas em situação de pobreza, e para essas continuou a manter-se a comida confecionada, ou a distribuição de bens alimentares. Mas agora, nalgumas dioceses, os pedidos duplicaram”, diz à Renascença o presidente da Cáritas, que prevê que este seja apenas o início de uma crise sem precedentes.
“Face ao encerramento de muitos postos de trabalho, e de muitos outros que ainda hão-de acontecer, a minha perceção – e não sou o único a pensar assim - é que podemos estar perante uma crise que vai ter contornos muito mais graves do que aquela que aconteceu entre 2008 e 2014”, afirma Eugénio Fonseca, justificando o lançamento deste novo programa de apoio.
O programa consiste na distribuição de vales de compras a quem ficou no desemprego, ou viu os seus rendimentos mensais drasticamente reduzidos. Ao todo a instituição católica disponibilizou “130 mil euros para esta ajuda, dos quais 100 mil euros serão para a compra dos vales”, que a partir desta quarta-feira, 22 de abril, vão chegar às diversas cáritas diocesanas, que depois farão a sua distribuição.
“Cada cáritas, através das paróquias, vai entregar os tickets universais de compras, para que as pessoas se possam dirigir a qualquer supermercado”, explica Eugénio Fonseca, sublinhando que há também aqui um cuidado para que as pessoas se sintam autónomas.
A identificação das situações de carência será feita pelas instituições, porque “não se vai dar de uma só vez todos os vales necessários, serão distribuídos de acordo com o tipo de rendimentos que as pessoas possam ainda ter, ou já não ter”, sublinha.
Segundo Eugénio Fonseca “cada cáritas vai ter o mesmo número de vales”. Os restantes 30 mil euros do total disponibilizado pela instituição “serão distribuídos segundo as necessidades de cada cáritas diocesana”, e servirão para apoiar “situações pontuais urgentes”, como “pagar obrigações à segurança social e às finanças”, ou fazer face a despesas como água, luz e gás.
O presidente da Cáritas explica, ainda, que este programa de apoio “está previsto para durar até junho”, mas “terminará assim que acabar a utilização dos 130 mil euros”.
“Receio bem que face ao agravamento a que assistimos, que nalgumas dioceses está a duplicar em termos de número de casos, a verba possa não ser suficiente para chegar até ao mês de junho”, diz Eugénio Fonseca, garantindo que “outras iniciativas surgirão, com a ajuda a sociedade portuguesa, que é sempre generosa”.