"Desconsideração": Manifestação das forças de segurança ignorada por António Costa
19-11-2022 - 17:55
 • Tomás Anjinho Chagas

Centenas de membros das forças de segurança manifestaram-se esta tarde em frente à residência oficial do primeiro-ministro. Mas depois de tocarem à campainha para entregar um documento, a porta não se abriu.

Os cinco dirigentes das associações sindicais que organizaram o protesto para exigir melhores condições salariais, deste sábado, bateram com o nariz na porta. Depois de tocarem à campainha da residência oficial do primeiro-ministro, as portas mantiveram-se fechadas.

O objetivo era entregar um ofício onde criticavam a forma como o Governo não respeita as forças de segurança e as forças militares, mas isso não foi possível. Ao contrário do que habitualmente acontece em manifestações em São Bento, desta vez ninguém recebeu os manifestantes.

"Não está ninguém. Mais uma vez só demonstra a desconsideração que o primeiro-ministro e este Governo têm para com estes profissionais", dispara César Nogueira, presidente da Associação Nacional da Guarda, em declarações à Renascença.

"Não tem um assessor ou um funcionário para receber um documento?", provoca, referindo-se a António Costa.

Esta associação juntou-se à Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP- PSP), à Associação Nacional de Sargentos (ANS), à Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA), e à Associação de Praças (AP). Há vários anos que as forças de segurança e as forças militares não se uniam numa manifestação.

O motivo? As condições salariais destes profissionais. "Neste momento ganho menos 100 euros do que ganhava em 2009", queixa-se um membro da Marinha ao microfone da Renascença.

O protesto acontece em vésperas da aprovação na especialidade do Orçamento do Estado e depois de uma semana de reuniões com o ministério da Administração Interna, de onde vieram de "mãos a abanar".

Semana marcada por investigação de crimes de ódio

A manifestação coincide também com as ondas de choque que se fazem sentir depois de uma investigação que revela centenas de comportamentos relacionados com crimes de ódio no seio das forças de segurança. A reportagem “Quando o ódio veste farda” foi lançada na quarta-feira passada por um novo consórcio de jornalismo de investigação em Portugal e dá conta de quase 600 polícias e militares da GNR envolvidos numa rede onde apelam à violência contra alegados criminosos, contra políticos, jornalistas e figuras públicas.

"Não se pode generalizar. (...) As forças de segurança têm sensivelmente 43 mil elementos, estamos a falar em seiscentos casos. Quanto será em percentagem?", desvaloriza um dos manifestantes, que prefere não se identificar.

A Renascença tentou questionar mais de dez pessoas que estavam na multidão, mas todas elas preferiram não se pronunciar.

"Não se pode pôr tudo no mesmo savo", pede este membro da Marinha, que critica o timing em que a reportagem foi lançada (na semana em que ia haver esta manifestação).

"O senhor André Ventura está a rir-se num cadeirão", comenta. "É uma meia verdade", opina este manifestante que acusa a reportagem de ser "tendenciosa", ao não relatar aquilo que considera ser a crescente hostilização desta classe profissional.