Mais de 5.000 cirurgias foram adiadas na segunda greve dos enfermeiros em blocos operatórios que termina esta quinta-feira. O protesto levou o Governo a decretar uma requisição civil e a publicar um parecer para travar o efeito prático da greve.
Esta segunda paralisação decorreu em sete centros hospitalares entre final de janeiro e hoje, tendo sido alargada a mais três hospitais a partir de 8 de fevereiro.
A greve arrancou depois de dois sindicatos de enfermeiros terem terminado as reuniões negociais com o Governo sem consenso, sobretudo na questão do descongelamento das progressões da carreira, no aumento do salário base e respetivas progressões e na antecipação da idade da reforma.
Tratou-se da segunda greve cirúrgica marcada pelo Sindicato Democrático dos Enfermeiros (Sindepor) e pela Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE), depois de uma paralisação idêntica que, no fim do ano passado, durou quase mês e meio e levou ao adiamento de mais de 7.500 cirurgias em cinco hospitais, com custos superiores a 12 milhões de euros para as unidades de saúde.
O caráter inédito destas greves não foi apenas a sua duração prolongada, mas também o facto de um movimento de enfermeiros - o Movimento Greve Cirúrgica -- ter lançado na internet um fundo de recolha solidário para financiar os grevistas, que angariou um total superior a 700 mil euros.
Dúvidas foram sendo lançadas sobre esta forma de recolher apoio financeiro para a greve, mas até ao momento ainda nenhuma investigação ou prova foi apresentada a sustentar suspeições de que entidades privadas poderiam estar a financiar a paralisação. O Governo tentou travar a greve de várias formas, tendo desde sempre considerado que era uma forma de luta extrema e até cruel.
A 7 de fevereiro, decretou em Conselho de Ministros uma requisição civil que abrangia quatro centros hospitalares, alegando que estariam a ser violados serviços mínimos.
Dois dias antes do fim do protesto, o Supremo Tribunal Administrativo recusava os pedidos do Sindepor, mas não se pronunciava nem sobre a licitude da greve nem sobre a adequação da requisição civil.
Embora a greve cirúrgica chegue hoje ao fim, a luta dos enfermeiros parece longe de terminar, havendo já marcadas greves de zelo, com os profissionais a admitirem recusar horas além das obrigatórias.
Para dia 8 de março está também marcada uma marcha pela enfermagem, a decorrer em Lisboa, bem como uma greve nacional para permitir a participação dos profissionais no desfile.