O presidente do PSD, Rui Rio, diz "já estava à espera" que, "à medida que se aproximam as eleições", acontecessem "tensões entre o Bloco de Esquerda, PS e, provavelmente, PCP", mas admitiu que não lhe "agrada" uma eventual crise.
Rui Rio, que respondia, esta quarta-feira, em Santa Maria da Feira, à margem do Congresso da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), a uma questão sobre o Programa de Estabilidade, referiu que uma eventual crise política não lhe agrada porque "não agrada a Portugal e, portanto, não agrada ao líder da oposição".
O líder do PSD não se mostrou, contudo, surpreso com possíveis tensões entre os partidos que formam a atual maioria paramentar.
"Essas tensões entre o Bloco de Esquerda, o PS e, provavelmente, o PCP, é algo que já estava à espera há muito tempo. Não vejo com grande admiração que à medida que nos aproximamos das eleições, eles tenham mais dificuldade em conseguir a estabilidade que até à data conseguiram", disse o líder dos sociais-democratas.
Também confrontada com a questão, a presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, entende que tanto bloquistas como comunistas fazem "muito barulho", mas acabam por aprovar os documentos estruturantes da governação, como o Programa de Estabilidade (PE).
"O CDS levará [o PE a votos] para que todos tenham as suas posições clarificadas e todos assumam as suas responsabilidades. O PCP e o BE podem fazer muito barulho, mas são eles que suportam este Governo e são, por isso, corresponsáveis com as políticas e com as opções deste Governo", defendeu Assunção Cristas, à margem de um encontro com a Associação Portuguesa de Parkinson.
"Na 'prova dos nove', votam todos em conjunto. Por isso é que as esquerdas encostadas ora encostam, ora desencostam, mas quando é para aprovar o Programa de Estabilidade e Orçamento do Estado, que são os documentos estruturantes da governação, estão todos e estão todos bem unidos", sustentou.
Marcelo não quer crise
Na manhã desta quarta-feira, o BE avisou o Governo que não pode ir além dos compromissos assumidos com Bruxelas e terá de inscrever, até sexta-feira, no Programa de Estabilidade, a meta de 1% de défice para 2018 acordada no Orçamento.
Numa conferência de imprensa no parlamento, a deputada do BE Mariana Mortágua veio advertir que o Governo criará "instabilidade" na maioria parlamentar de esquerda caso mantenha a intenção de inscrever uma meta de défice de 0,7% no Programa de Estabilidade que deverá ser aprovado em Conselho de Ministros na quinta-feira, dando entrada na Assembleia da República no dia seguinte.
Também esta manhã, antes da chegada de Rui Rio ao congresso da CIP, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, falou sobre a importância da "normal conclusão da legislatura" e da aprovação do Orçamento do Estado para 2019, avisando que prefere "não ter de intervir a não ser para o promulgar".
Marcelo Rebelo de Sousa disse que "é certo que os debates prévios sobre os sucessivos programas de estabilidade e orçamentos têm, ano após ano, grande intensidade" e admitiu que este debate seja mais intenso em ano eleitoral.
O chefe de Estado recusou, contudo, a hipótese do Orçamento do Estado não ser aprovado.
"Não me passa pela cabeça que o orçamento não venha a ser aprovado na Assembleia da República", sublinhou, considerando que "uma crise política é indesejável" e "uma crise política decorrente ou envolvendo o Orçamento do Estado é duplamente indesejável para todos, até por poder gerar cenários imediatos de elevado preço para o país".
Confrontado com estas palavras, Rui Rio remeteu a frase do chefe de Estado para a atuação dos partidos de esquerda e concordou com a indesejabilidade de uma crise.
"Acho que uma crise política não é algo que Portugal deseje e estou convencido que as palavras do senhor Presidente da República são para a coligação parlamentar à esquerda. Eles é que têm de garantir essa estabilidade e essa não crise política", referiu o presidente do PSD.