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A situação política e social da Venezuela foi tema das conversas que o Papa Francisco teve em Portugal tanto com o Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, como com o primeiro-ministro, António Costa.
Nos encontros que tiveram, os responsáveis portugueses entenderam falar da Venezuela, dada a dimensão da comunidade portuguesa e luso-descendentes que vive naquele país e também pelo facto de o Papa, sendo sul-americano, conhecer bem a situação.
A Renascença confirmou junto de várias fontes que o assunto foi falado tanto por Marcelo, que teve um encontro privado com Francisco logo na base de Monte Real, no dia 12, como por António Costa, que se reuniu com o Papa na Casa de Nossa Senhora do Carmo, em Fátima, na manhã de dia 13.
O Papa, no entanto, manifestou reservas quanto às possibilidades de diálogo naquele país, considerando que não há sequer condições para tentar uma mediação. Francisco garantiu que a Igreja se mantém atenta e disponível para essa mediação, mas entende que são necessárias condições mínimas de vontade e seriedade. E essas não existem, como, aliás, já tinha dito no fim de Abril, no voo de regresso do Cairo a Roma.
“Houve uma intervenção da Santa Sé, a pedido insistente dos quatro Presidentes que estavam a trabalhar como facilitadores e não resultou. Ficou-se por aí. Não resultou, porque as propostas não eram aceites: ou se esbatiam ou havia um ‘sim, sim’ que depois era um ‘não, não’... Todos conhecemos a situação difícil da Venezuela, um país que muito amo”, disse o Papa, na conferência de imprensa a bordo do avião.
A intervenção a que se referia foi a tentativa de acordo levada a cabo no Verão e Outono do ano passado e os quatro Presidentes são Ernesto Samper (ex-Presidente da Colômbia e actual secretário-geral da Unasul, União das Nações sul-americanas), José Luís Zapatero (ex-presidente do Governo espanhol), Leonel Fernandez (antigo chefe de Estado da República Dominicana) e Martin Torrijos (que presidiu ao Panamá).
O Papa disse que esses quatro políticos estavam a tentar relançar a mediação, mas acrescentou que é preciso partir para o diálogo com condições.
“Creio que tem de partir já com condições; condições muito claras. Parte da oposição não quer isto: é curioso, que a própria oposição está dividida. Tudo o que se possa fazer pela Venezuela, há que fazê-lo. Com as garantias necessárias. Senão estamos a jogar ao ‘tintin piruleiro’ e não resulta”, afirmou Francisco a 29 de Abril.
Situação “caótica e gravíssima”
A posição de reserva do Papa mantém-se pelo que foi possível perceber das conversas em Portugal. A Renascença sabe que o Presidente da República insistiu no envolvimento da Igreja e fontes diplomáticas consideram que esta seria a única entidade que, eventualmente, pode criar uma ponte entre os apoiantes de Maduro e a oposição, que neste momento nem sequer contactam.
As autoridades portuguesas estão cada vez mais preocupadas com a situação naquele país, onde existem cerca de um milhão de luso-descendentes e 300 mil portugueses.
Ontem, quarta-feira, na comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros, que decorreu à porta fechada, o ministro Augusto Santos Silva traçou o retrato de uma situação “caótica e gravíssima”. E, à saída, em declarações aos jornalistas, assumiu que os pedidos de ajuda têm aumentado, o que levou a um reforço dos serviços consulares com adidos sociais.
Neste momento, não há qualquer ponte entre o “chavismo” e a oposição, também ela já dividida, e há portugueses e luso-descendentes entre os apoiantes dos dois lados.
Muitos estão a enviar filhos e netos para países da região, como o Brasil e o Peru, e até mesmo para os Estados Unidos, e ficam na Venezuela a tentar proteger os seus bens e negócios.