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O antigo primeiro-ministro Pedro Santana Lopes dá Hillary Clinton mais próxima da nomeação democrata do que Donald Trump no partido rival. Os republicanos estão numa intensa batalha interna na qual o alvo principal é o candidato que já recolheu mais delegados à convenção do partido.
"Se ele embala, não vai ser fácil [travá-lo]. Não estou ver quem é que pode sair dali. Ted Cruz? John Kasich, que se atrasou? Não estou a ver quem é que dali saia com força para ser alternativa ao Trump”, afirma Pedro Santana Lopes, que não vê grandes diferenças entre o posicionamento político de Cruz e de Trump. “Cruz diz menos asneiras mas ideologicamente é muito próximo de Trump”, argumenta o comentador social-democrata.
Já António Vitorino considera muito difícil que Trump seja travado no partido republicano. “A não ser através de um golpe de secretaria que não impedirá Trump de concorrer”, antecipa o antigo comissário europeu.
“Os meus amigos americanos fazem-me lembrar aqueles treinadores de futebol que quando perdem num domingo dizem que na próxima jornada eles vão dar a volta. Estou à espera que os republicanos dêem a volta àquilo que parece inevitável – a designação de Trump – há várias jornadas. E com esta vitória em Nova Iorque, não me venham dizer que é a América profunda, rural e retrógrada que entronizou Donald Trump”, sustenta Vitorino.
Hillary, favorita e cansada
Do lado democrata, Hillary Clinton ganhou uma margem mais confortável sobre Bernie Sanders, alguém que até parece mais fresco, assinala Santana Lopes.
"Sempre simpatizei com a candidatura de Hillary. Mas ao vê-la ao lado [da filha] Chelsea, agora à espera de bebé, e o marido, acho que aquele retrato já tem muitos anos. Curiosamente Sanders, sendo já avôzinho, tem ali uma frescura engraçada que Hillary manifestamente não tem”, sustenta Santana.
O antigo primeiro-ministro lembra que Hillary Clinton apoia-se no lado mais tradicional do partido democrata, o que pode não assegurar uma vitória num dos grandes estados ainda por conquistar nas primárias.
"A Califórnia é um estado muito oscilante, entre um conservadorismo mais ou menos iluminado e um progressismo mais ou menos surpreendente. Não excluo de todo que Sanders possa fazer uma surpresa na Califórnia, por muito inverosímil que isso pareça”, afirma Santana Lopes.
O namoro a Sanders e os republicanos que votam Clinton
Para António Vitorino, os democratas vão ter que resolver a transferência de votos nacionais do eleitorado de Sanders para o de Clinton.
“Todos os comentadores dizem que que Clinton, uma vez conquistada Nova Iorque, terá que começar a fazer uma inflexão no seu discurso para tentar aproximar-se de alguns dos temas do próprio Sanders, para começar a criar caldo de cultura para que essa transferência de votos se verifique nas eleições nacionais. Por isso talvez Sanders também tenha subido o tom dos discursos de crítica a Hillary Clinton, sublinhando a parte dos financiamentos de Clinton que vêm de Wall Street”, complementa o antigo ministro do PS.
A questão remete para um possível embate entre Clinton e Trump para a Casa Branca nas presidenciais de Novembro. Santana Lopes anota um certo cansaço de Hillary face à energia de Trump. Já Vitorino admite que uma parte importante do eleitorado republicano poderá repudiar Trump mesmo ao ponto de votar Hillary Clinton.
"Isso não é inédito nos EUA. Todos nos lembramos dos chamados democratas reaganistas, uma parte importante do eleitorado democrata que votou Reagan nos anos 80. Também pode haver aqui uma repulsa em relação a Trump que leve os sectores mais moderados do Partido Republicano a votar Clinton”, alvitra António Vitorino.