Carlos Camponez, professor na Universidade de Coimbra, considera que o que diferencia “o jornalista é responder sob um código deontológico” e lembra que “isso não está patente na legislação”. “O que distingue o cidadão do jornalista é a dimensão ética, o seu compromisso de responsabilidade”, frisou esta sexta-feira no Congresso de Jornalistas, na sessão “Desafios éticos do jornalismo hoje”, em que se discutiu os limites do exercício da profissão.
“Esta dimensão de um compromisso de um jornalista aderir a um código deontológico e de aceitar a jurisdição dos seus pares para discutir questões de ética é central”, disse, sublinhando o papel da autoregulação, a par da regulação dos media. “A autoregulação é um dever do jornalista”, frisou o investigador especializado em ética e deontologia, que abordou também a questão da formação de profissionais, dizendo que é preciso “definir um núcleo mínimo daquilo que são os saberes do jornalismo”, independentemente de terem licenciaturas em comunicação social, direito ou biologia.
A sessão ficou também marcada pela discussão dos limites do chamado jornalismo 'lifestyle', em particular sobre o processo judicial que opõe a revista 'Time Out' à Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas (CCPJ), que tem recusado a emissão de títulos a profissionais desta publicação.
Hugo Torres, diretor adjunto da 'Time Out', defendeu que “o jornalismo não tem limites”, dizendo que “qualquer assunto pode ser alvo [de trabalho], desde que a informação seja tratada no quadro de valores do jornalismo”. Comparando o exercício da profissão ao de outros que trabalham em órgãos generalistas sobre os mesmos temas (restaurantes, viagens, hotéis, entre outros), Hugo Torres disse que a esses não foi retirado o título profissional.
Em resposta, no final da sessão, Licínia Girão, presidente da CCPJ, afirmou que a comissão “não tem nenhum diferendo com a 'Time Out'”. “Não queremos caçar carteiras, nem distinguir jornalistas. Faço o desafio a todos que nos ajudem à discussão”, disse, acrescentando que aquele órgão não considera que a lei esteja atual.
O painel moderado pelo professor e jornalista António Granado contou também com a participação de Marta Gonçalves, repórter do Expresso, que abordou os riscos que a empatia com temas ligados aos direitos humanos pode acarretar.
“É mais fácil contar uma história de desgraça sem ter contraditório”, disse, acrescentando que na cobertura, por exemplo, de um caso de despejamento de um banqueiro da casa onde sempre viveu provavelmente o jornalista faria um cruzamento de fontes.
Marta Gonçalves falou ainda sobre o código de conduta para as redes sociais existente no Expresso, dizendo que o tema gerou discussão entre pares, atendendo ao direito de cada pessoa manifestar a sua opinião e simultaneamente ao dever de isenção do jornalista.