Rita Valadas, presidente da Cáritas portuguesa, alertou para o facto de que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) "não ser uma solução para todas as questões", sublinhado que a crise social vem depois da emergência inicial.
Na conferência Pandemia: Respostas à Crise, uma iniciativa da Renascença em parceria com a Câmara de Gaia para debater o papel das Instituições Sociais e do Poder Local, esta responsável vincou que, antes de pensar na bazuca europeia, é preciso pensar na crise social que se amontoará.
"A bazuca não é solução para todas as questões, até porque ainda não as sabemos identificar. A bazuca pode ter uma ação sobre o momento e os caminhos da resiliência do futuro. O dinheiro que vier tem de saber olhar para duas áreas - a da emergência e a da preparação das respostas sociais para melhor servir a população portuguesa", disse Rita Valadas, no debate moderado pelo jornalista da Renascença José Pedro Frazão.
A presidente da Cáritas portuguesa também salientou ser difícil interpretar já o que vai ser necessário, dada a incerteza do futuro e da crise económica. "A nossa preocupação é o desconhecimento. É sempre difícil estar a olhar para o futuro sem saber o que vai acontecer daqui a bocado. Não temos a certeza quando é que a coisa vai acabar, não sabemos qual é o próximo passo, já tivemos um retrocesso e não podemos respirar fundo em relação àquilo que vamos fazer", disse.
Lamentou que se tenda "a olhar para as crises como se estas se resolvessem quando o fator inicial se resolve."
"A crise social vem sempre depois. Já passámos pela crise do setor imobiliário e estávamos em retoma económica, mas em crise social. Agora tememos que isso aconteça também. No momento em que tudo assume uma aparente normalização, vamos perceber quais são as empresas que conseguem fazer a retoma, quais os empregos que se conseguem manter e evidentemente quais não vão conseguir", salientou.
"Nem todas as respostas precisam de betão"
Lembrou que qualquer apoio económico não tem necessariamente de ser aplicado em respostas físicas e em equipamentos, sublinhando que em zonas urbanas, por exemplo, "o apoio domiciliário pode garantir a permanência no seu domicílio com o apoio aberto".
"Nem todas as respostas precisam de betão. Tendemos a criar programas que definem a construção de novas respostas sociais, quando às vezes poder usar estruturas pré-existentes podia ser mais fácil", afirmou.
Rita Valadas também elogiou a resposta da rede informal e solidária à crise social que, diz, "fez a diferença" nesta pandemia, especialmente tendo em conta que o impacto da crise económica ainda será conhecido.
"Há um movimento de alteração de emprego que claramente vai acontecer. Há empresas que não vão conseguir retomar, vão deixar de ter o apoio dos lay-offs e das moratórias, as famílias também, e nessa altura vamos fazer a síntese. Vamos ter um agravamento da crise social e esperemos que seja leve e que haja trunfos na economia que permitam encontrar no tecido económico soluções", disse.