O juiz do julgamento do antigo diretor de campanha de Donald Trump recusou-se a divulgar o nome dos jurados, justificando que ele próprio tem recebido ameaças e receia pela segurança deles.
O juiz T. S. Ellis III revelou as suas preocupações, ao explicar porque não tenciona divulgar os nomes dos jurados no final do julgamento de Paul Manafort, que se encontra no segundo dia das deliberações do júri.
Um grupo de meios de comunicação apresentou um pedido para conhecer os nomes dos jurados, bem como para aceder às transcrições das audiências, que decorreram durante três semanas.
As listas com os nomes dos jurados costumam ser divulgadas, a não ser que o juiz apresente razões para as manter em segredo.
Eliis afirmou durante a audiência da tarde de sexta-feira que estava preocupado com "a paz e a segurança dos jurados", adiantando: "Eu tenho recebido críticas e ameaças. Imagino que eles também receberiam".
O juiz adiantou que se encontra sob proteção policial, sem especificar. Declarou ainda que está surpreendido com o nível de interesse do julgamento.
Também hoje, Trump defendeu hoje Manafort, que está a ser julgado por fraude financeira, considerando-o uma "muito boa pessoa", quando o júri entrou no seu segundo dia de deliberações.
Manafort é acusado de esconder ao fisco dos EUA milhões de dólares, que obteve pelos serviços de assessoria a políticos apoiados pela Federação Russa na Ucrânia, e de mentir aos bancos para conseguir empréstimos quando a fonte daquelas receitas secou.
No total, Manafort enfrenta 18 acusações por evasão fiscal e fraude bancária.
"Penso que todo o julgamento de Manafort é muito triste", disse Trump aos jornalistas, na Casa Branca.
"Quando se vê o que está a acontecer, penso que é um dia muito triste para o nosso país", afirmou. "Ele trabalhou para mim durante um muito curto período de tempo. Mas, sabem, acontece que ele é uma muito boa pessoa e penso que é muito triste o que eles fizeram ao Paul Manafort".
O julgamento por fraude financeira é o primeiro teste em tribunal da investigação, que continua, sob a ingerência russa nas eleições presidenciais dos EUA, liderada pelo procurador especial Robert Mueller.
Apesar de as alegações de conluio entre a campanha de Trump e os russos continuarem a ser investigadas, as provas de fraude bancária e evasão fiscal reveladas durante o julgamento lançaram dúvidas sobre a integridade dos mais próximos conselheiros de Trump durante a campanha eleitoral.
Mas o destino de Manafort está longe de estar decidido. O caso implica que uma dúzia de jurados se envolvam nas complexidades das contas nos bancos estrangeiros e em empresas de fachada, regulações de créditos e regras fiscais.
O julgamento revelou pormenores do estilo de vida sumptuoso deste que foi íntimo dos círculos políticos, incluindo um casaco feito de pele de avestruz, que custou 15 mil dólares (13 mil euros), ou uma despesa de 900 mil dólares numa 'boutique' em Nova Iorque, por transferência bancária internacional.
O júri acabou o primeiro dia de deliberações com uma série de questões ao juiz, incluindo um pedido para "redefinir" o conceito de dúvida razoável.
As questões surgiram ao fim de sete horas de discussão e foram entregues, sob a forma de manuscrito, ao juiz.
Juntamente com a questão da dúvida razoável, os jurados fizeram perguntas também sobre a lista de documentos apresentados em tribunal, as regras para reportar as contas em bancos estrangeiros e a definição de 'shelf companies' (empresas criadas mas que ficam sem atividade), um termo usado durante as audiências para descrever algumas das empresas estrangeiras usadas por Manafort.
A defesa de Manafort garantiu que este estava inocente, porque tinha entregue a gestão das suas finanças a terceiros.
Ao contrário, o procurador Greg Andres afirmou, nas suas declarações finais: "Quando se segue a pista do dinheiro do senhor Manafort, está cheia de mentiras".
Os advogados de Manafort procuraram invalidar o caso no seu conjunto, questionando a credibilidade do seu aliado de velha data, mas que agora é testemunha da acusação, Rick Gates.
Os procuradores afirmam que Manafort recebeu 60 milhões de dólares pela assessoria a um partido político ucraniano apoiado pelo Kremlin, e escondeu pelo menos 16 milhões de dólares ao fisco entre 2010 e 2014.