Imprevistos, futuro e sonhos. As três poupanças que deve ter em conta
31-10-2017 - 10:27

Poupar não tem de ser um fardo, diz a Deco. É importante “estabelecer objectivos que se consigam alcançar”.

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“Moeda a moeda se consegue fazer uma poupança”, diz Natália Nunes, do Gabinete de Apoio ao Sobreendividado da associação para a defesa do consumidor Deco.

“Até lhe posso dizer mais: se poupar o correspondente a um café – que são os 0,60 euros, mais ou menos – todos os dias, chegava ao fim do mês e tinha 18 euros. Já começava a ser um valor simpático”, reforça.

Convidada da Manhã da Renascença neste Dia Mundial da Poupança, Natália Nunes diz que “a poupança deve ser feita com vários objectivos”:

  • fazer face a imprevistos
  • concretizar sonhos
  • complementar uma reforma baixa

No que toca aos imprevistos, muitos têm origem na relação laboral, com “situações de desemprego ou de cortes salariais, aumento da carga fiscal”, mas também podem advir de uma avaria no carro ou num electrodoméstico.

“Devemos ter esse fundo de emergência, um pé de meia – aquilo que se queira chamar – que deve representar cinco a seis vezes o nosso rendimento mensal”, indica a responsável da Deco.

Depois, “devemos ter uma poupança a pensar no futuro, porque sabemos que, quando chegar a idade da reforma, os nossos rendimentos vão sofrer uma grande diminuição”. Nem sabemos bem “qual vai ser o valor da reforma quando atingirmos a idade”, pelo que o melhor é prevenir.

Natália Nunes avisa, a este respeito, que há pessoas “a contratar, por exemplo, crédito à habitação até aos 75/80 anos”, o que lhes aumenta “mais a responsabilidade de acautelar o futuro e pensar numa poupança a longo prazo”.

Por fim, o "Pote dos Sonhos", a poupança que visa a concretização de um qualquer sonho. “A poupança não tem de ter toda esta carga negativa e ser sentida como um fardo. Ela pode ser também simpática e ser a poupança para fazermos as férias”, afirma.

Qualquer destas poupanças deverá depois ser rentabilizada – “não vai ficar eternamente no porquinho”.

“Temos de ser consumidores activos e ir procurar as várias aplicações financeiras que existem e que nos permitem rentabilizar a poupança, porque, se tivermos uns pozinhos no final até nos vamos sentir mais aliciados e mais motivados para continuar”, considera a responsável do Gabinete de Apoio ao Sobreendividado.

Poupar de acordo com as possibilidades

Num país em que a maior parte dos rendimentos são muito baixos, a poupança não deve ser um instrumento de desmotivação.

Em Portugal, “temos cerca de dois milhões de pessoas com rendimentos inferiores ao salário mínimo nacional, que estão verdadeiramente numa situação de carência económica; temos mais de dois milhões de reformados a receber menos do que o salário mínimo nacional; temos cerca de um milhão de pessoas a receber o correspondente ao salário mínimo nacional”, descreve Natália Nunes.

Muitos, sublinha, “gerem bem o dinheiro” e “seguem todos aqueles conselhos que damos; fazem verdadeiramente economia, mas na verdade não conseguem poupar porque o dinheiro é insuficiente”.

Mas depois há “muitas outras famílias que deveriam poupar e não estão a fazer. Essas é que deveriam repensar a forma como estão, neste momento, a lidar com o dinheiro e repensar os seus actos de consumo”, alerta.

A primeira regra de ouro é não encarar a poupança como aquilo que sobra ao final do mês. Porque nunca sobra. “Tem que ser um verdadeiro objectivo, logo no início, e estar em pé de igualdade com as despesas: água, luz, gás, prestação da casa”.

Mas, nos casos em que o rendimento é muito baixo, “é violento” dizer para dele retirar 10% para poupança. Ela deve, por isso, ser feita por “objectivos que se consigam alcançar, para que haja motivação”.

“Nem que seja um café por mês. No próximo mês, se calhar, vou-me sentir motivada e a continuar a poupar e a poupar até mais: em vez de ser um café por dia, são dois”, refere a especialista da Deco.