Professores perdem 12% do poder de compra em 13 anos
21-12-2024 - 22:40
 • Fátima Casanova

Estudo do economista Eugénio Rosa indica que a falta de professores é culpa dos “sucessivos governos que desprezaram os avisos vindos de vários lados”. Desde o início do século, o número de licenciados em Educação caiu 70%.

Os professores perderam 12% do poder de compra nos últimos 13 anos e a falta de docentes podia ter sido evitada, conclui o economista Eugénio Rosa, no seu mais recente estudo elaborado com base em dados oficiais.

No estudo agora publicado, este economista também mostra o motivo por a profissão de professor ter deixado de ser atrativa.

O economista faz as contas aos salários entre 2011 e 2024 e desconta a inflação registada entre esse mesmo período.

Olhando para os números, Eugénio Rosa diz que a remuneração base média bruta dos professores aumentou 357 euros. Por outro lado, “se for deduzido efeito da inflação verificada entre o início de 2011 e 2024, à remuneração de 2024 (2.413 euros), ela fica reduzida a 1.899 euros, a preços de 2011 e, por isso, é possível compará-la, em termos reais, com a de 2011, diz o economista, para concluir que “o poder de compra da remuneração de 2024 é inferior à de 2011 em -7,6%”.

Eugénio Rosa também faz as contas com a remuneração média líquida e nesse caso a perda de poder de compra é mais elevada.

Depois de deduzir os descontos para Caixa Geral de Aposentações, ADSE e IRS, a remuneração média de um professor é atualmente de 1.585 euros, mas descontando o efeito da inflação, “a remuneração média de 2024 a preços de 2011 é de 1.248 euros”, diz Eugénio Rosa, que compara com a remuneração média líquida de 2011, que era de 1.419 euros.

Fazendo contas, o economista diz que entre 2011 e 2024, o poder de compra na remuneração base média líquida dos professores, diminuiu 12%.

Falta de professores "podia ter sido evitada"

Utilizando dados oficiais, Eugénio Rosa mostra que a crise de falta de professores no ensino básico e secundário, que está a deixar milhares de alunos sem aulas, “era previsível e podia ter sido evitada”.

O economista considera, mesmo, que os sucessivos governos “desprezaram os avisos vindos de vários lados” e “não podem dizer que não sabiam, pois, os próprios dados oficiais revelavam, já há vários anos, que se estava a caminhar rapidamente para uma crise profunda no sistema de ensino em Portugal.”

Analisando os dados oficiais, Eugénio Rosa indica que, entre os anos 2000 e 2023, o número de alunos inscritos no curso de Educação diminuiu de 51.128 para 16.805 (-67,8%) e o número de licenciados de 11.936 para 3.497 (-70,7%).

O economista destaca que o número de novos licenciados é inferior aos professores que se aposentaram em 2024, ano em que 3.981 docentes deixaram a escola pública, para se reformarem.