Portugal detetou 150 mutações no novo coronavírus. “É tempo de procurarmos respostas”
06-05-2020 - 14:20
 • Marta Grosso

Presidente do Instituto Nacional de Saúde Prof. Ricardo Jorge diz que chegou a altura de nos focarmos no que o novo coronavírus nos pode ensinar e do que daí pode resultar para o seu combate.

Veja também:


Desde que saiu da China e chegou a Portugal, o novo coronavírus já sofreu 150 mutações. A informação foi avançada nesta quarta-feira pelo presidente do Instituto Nacional de Saúde Prof. Ricardo Jorge (INSA).

“Já conseguimos encontrar qualquer coisa como 150 mutações deste coronavírus. Ou seja, desde que ele saiu de Wuhan até que chegou a Portugal, conseguimos já identificar que o genoma já foi alterado 150 vezes. Aquilo que nos chegou cá em termos do coronavírus já foi modificado. Ele próprio já se alterou no seu genoma 150 vezes”, afirmou Fernando Almeida.

O presidente do INSA foi o convidado presente nesta quarta-feira na habitual conferência de imprensa diária da Direção-Geral de Saúde, para explicar o projeto que tem agora em mãos: a sequenciação do genoma do SARS-CoV-2.

“Até agora temos estado focados no diagnóstico e na resolução da epidemia, mas agora é tempo de ir em busca das respostas que o coronavírus nos pode dar”, começou por dizer aos jornalistas.

Neste estudo científico (que é um projeto-piloto) participam o Instituto Gulbenkian da Ciência e o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S). O objetivo é descodificar aquilo que é chamada a “impressão digital” de “cada coronavírus que infetou os portugueses”, afirmou o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, na introdução do tema.

“Esta sequenciação já foi usada na legionella, no sarampo, na hepatite”, explica Fernando Almeida, presidente do INSA, para depois detalhar. “Serve, por exemplo, para percebermos se [este coronavírus], desde que saiu da China, é o mesmo ou tem outras linhas” e “em que medida nos permite identificar, de forma clara e inequívoca, toda a sua linha de transmissão num doente e donde veio”.

Com estas informações, as autoridades de saúde poderão mais facilmente responder a uma eventual segunda onda de contágios.

“É muito importante na busca de uma nova vigilância que vai ter de ser feita agora”, numa altura de desconfinamento, mas em que “o combate que ainda não terminou”.

“O desconfinamento obriga-nos a debruçar ainda mais sobre as pequenas modificações”, de modo a percebermos “cadeias de transmissão, onde determinado surto emergiu e donde veio”, permitindo, assim, “ações subsequentes em termos de prevenção”.

Esta investigação permitirá, assim, averiguar da severidade do vírus: “vai ser importantíssimo para os médicos perceber se há linhagens mais severas e agressivas” do que outras, sustenta Fernando Almeida.

Além disso, a informação recolhida será importante para a concretização de uma vacina, pois permitirá, ou não, encontrar “pontos comuns nestas linhagens”.

O presidente do INSA sublinha a diferença entre linhagem e estirpe.

“Já existem mais coronavírus. As estirpes que existem são sete: quatro muitas vezes confundidas com a gripe e depois temos dois, a SARS e a MERS, que transmitem uma patologia própria” e mais agressiva, começa por explicar.

“E este agora é uma nova estirpe, que tem várias linhagens. Estas linhagens, mantendo o seu padrão genómico, são várias alterações no seu genoma – seja por transcrição genética, seja por mutação ou mecanismo de adaptação depois de estar dentro do ser vivo”, continua.

“Por isso é que já detetámos 150 linhagens diferentes, mas sempre da mesma estirpe”, conclui.

Este estudo é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia – Agência de Investigação Clínica e Biomédica e conta com a colaboração de laboratórios de todo o país.

Segundo o secretário de Estado da Saúde, “até fim da semana, prevê-se estarem sequenciados cerca de 460 coronavírus”.