​Nos extremos, partidos de protesto
25-10-2021 - 06:15

A prazo, à esquerda e à direita os extremos serão marginalizados do poder, restando-lhes serem partidos de protesto. Nem tudo é negativo no caótico processo negocial do Orçamento para 2022.

Não sabemos se o Orçamento do Estado para 2022 será aprovado no parlamento. Nem, se for aprovado, conhecemos o custo das cedências do governo à extrema-esquerda. A possiblidade de eleições é real.

No entanto, essas incertezas não impedem retirar da situação atual algumas ideias. A primeira é que a “geringonça” acabou. PCP e BE têm sido castigados nas urnas pelo seu apoio ao governo PS. Por isso, comunistas e bloquistas querem regressar à sua tradicional categoria de partidos de protesto anticapitalista.

A habilidade de António Costa de, não tendo ganho as eleições em 2015, ter formado governo não poderia repetir-se indefinidamente, ano após ano. A. Costa manteve-se firme no europeísmo do PS, bem como na atenção aos mercados e à sua influência na dívida do Estado e no nível dos respetivos juros. Assim o primeiro-ministro reconheceu implicitamente que a unidade da esquerda, incluindo a extrema-esquerda hostil à democracia liberal, era uma fantasia.

Compreende-se que a posição europeísta de A. Costa tenha caído mal à nostalgia do PCP em relação ao comunismo soviético e à inspiração marxista do BE. Mais tarde ou mais cedo a “geringonça” teria que quebrar de vez.

Do lado da oposição ao governo socialista também parece ter falhado o recurso à extrema-direita do Chega. Há meses, alguns membros do PSD, descontentes com a brandura de Rui Rio em relação ao governo, apostaram no Chega para ajudar a destronar o ainda líder do PSD. Falharam, pois quem desafia Rio nas eleições diretas do partido é Paulo Rangel, que nada quer ter a ver com o Chega. O mesmo se diga de Carlos Moedas, agora presidente da Câmara de Lisboa. O Chega poderá crescer se houver eleições, mas manter-se-á um partido de protesto.

Tudo indica que o Orçamento para 2022 será o último condicionado pela extrema-esquerda. A prazo, a tendência é clara: à esquerda e à direita os extremos serão marginalizados do poder, restando-lhes serem partidos de protesto. Em suma, nem tudo é negativo no caótico processo negocial do Orçamento para 2022.