Uma semana após ter sido implantado com sucesso um implante cerebral revolucionário, olhamos para o que pode ser o futuro da neurociência “pós Neuralink”. Trata-se de um avanço científico ou um de um retrocesso civilizacional?
Depois das experiências com animais, o multimilionário dono da Tesla, da rede social X, da Space X e também da Neuralink, anuncia que a inovação chega agora aos seres humanos e, segundo o próprio Elon Musk, “os primeiros resultados mostram atividade cerebral promissora”.
Em teoria, poderá vir um dia a transmitir pensamentos de uma pessoa para outra… ou de uma máquina para uma pessoa. Será um avanço científico ou um perigo?
Em entrevista à Renascença, o neurocirurgião Alexandre Rainha Campos explica que hoje em dia já se implantam no cérebro de pacientes dispositivos que permitem estimular a medula espinal. É o caso de algumas pessoas tetraplégicas para que possam recuperar a mobilidade após um trauma na medula espinal. Também já se tratam depressões e algumas formas de epilepsia. Mas, por estarmos a falar de uma possível interacção futura entre cérebros humanos e máquinas, há uma série de questões médicas e até éticas, reconhece Alexandre Rainha Campos.
Este investigador da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa explica que o Neuralink é apresentado como tendo por objectivo “recolher informação do cérebro para comandar um dispositivo externo”, mas alerta para outras ideias que o financiador deste projecto terá: “Elon Musk já veio dizer que a ideia é permitir a comunicação através do Neuralink entre vários sistemas e aí estamos a falar de uma tecnologia que ainda nem existe e que está avançado em relação ao conhecimento científico actual”.
Sobre a hipótese de um dia, se poder vir a aumentar as capacidades cognitivas de alguém, de se poder vir a criar humanos com super-cérebros, este neurocirurgião diz que “quando investigamos este tipo de dispositivos é no sentido de melhorar a qualidade de vida de pessoas que têm uma doença, mas quando estamos a pensar por hipótese aumentar aumentar as capacidade da memória de uma pessoa, já estamos a entrar num campo que ultrapassa a barreira ética”.
Sobre possíveis perigos que implicam ser um privado a financiar este avanço tecnológico, Alexandre Rainha Campos diz que “essas questões éticas são sempre complexas e devem ser analisadas caso a caso. Aconteceu quando se clonou a ovelha Dolly, quando se questionou o que é que aconteceria com a clonagem humana. São sempre questões éticas importantes, mas isso não pode impedir que a ciência avance no tratamento das doenças”. Oiça a entrevista.