Uma em cada quatro pessoas na República Centro-Africana foram obrigadas a fugir para o interior e para países vizinhos devido ao conflito iniciado em 2013, revelou esta segunda-feira a coordenadora humanitária das Nações Unidas naquele país, Najat Rochdi.
De acordo com dados registados até abril deste ano, 670 mil pessoas foram consideradas deslocados internos, enquanto 580 mil são refugiados.
"Estes valores representam um aumento de 70% de deslocados e de 25% dos refugiados, em relação ao ano anterior", afirmou em conferência de imprensa Najat Rochdi.
Em maio de 2017 o número de deslocados era de 402.240 pessoas, e o de refugiados 575.544, a maioria no Chade e na República Democrática do Congo.
Rochdi destacou que a ajuda humanitária requerida de 443,3 milhões de euros está apenas financiada em 13%, enquanto que o número de centro-africanos que necessitam de assistência humanitária ascende a 1,9 milhões.
"Tivemos que reduzir as rações alimentares por um terço, pois não temos forma de pagar uma ração inteira", revelou Rochdi, descrevendo a situação como "horrível".
A coordenadora humanitária salientou ainda que a mortalidade infantil é de 18%, sublinhando também que 70.000 crianças deslocadas não têm qualquer tipo de acesso a educação.
Devido ao "agravamento" da situação no último ano, Rochdi elogiou o apoio dado pela ONU ao Governo, na criação de um sistema judicial independente e eficaz, com a função de julgar crimes de guerra e contra a Humanidade cometidos desde 2003.
O Tribunal Criminal Especial, que deverá entrar em funcionamento "na próxima semana" depois de vários atrasos, funcionará dentro do sistema judicial centro-africano e com apoio internacional.
A República Centro-Africana, com 4,5 milhões de habitantes, vive desde 2013 um conflito civil entre a coligação rebelde Seleka, maioritariamente muçulmana, que depôs o então Presidente, François Bozizé, e a milícia anti-Balaka, que é na sua maioria cristã.
Portugal é um dos países que integra a missão da ONU estacionada no país (MINUSCA), tendo, no início de março, a 3.ª Força Nacional Destacada (FND) - composta por 138 militares, dos quais três da Força Aérea e 135 do Exército, a maioria oriunda do 1.º batalhão de Infantaria Paraquedista -, partido para a República Centro-Africana.
Estes militares juntaram-se aos 21 que já estavam no terreno, sediados no aquartelamento de Bangui, desde o dia 18 de fevereiro.