Donald Trump anunciou oficialmente, esta terça-feira, a saída dos EUA do acordo nuclear do Irão.
O acordo de 2015 estipulava que o Irão deixaria de tentar obter armas nucleares, perseguindo o seu programa apenas para fins energéticos de consumo doméstico. Os céticos do acordo argumentam que, ao abrigo deste, o regime iraniano tem continuado o seu programa militar em segredo. A Agência de Energia Atómica, contudo, garante que o Irão não está a fazê-lo e ao longo das últimas semanas vários líderes europeus e mundiais tentaram convencer Trump a mudar de ideias.
Mas como ficou claro esta terça-feira, Donald Trump optou por confiar antes em Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelita, que a semana passada fez uma apresentação em que apresentou provas de que o Irão continua a tentar obter armas nucleares. Trump descreveu estas provas como conclusivas e irrefutáveis.
No seu discurso na Casa Branca, de pouco mais de 10 minutos, Trump sublinhou que o Irão é o "maior patrocinador estatal de terrorismo no mundo", apontando para as ligações entre o regime e grupos terroristas como o Hezbollah, o Hamas, os Taliban e a al Qaeda. "Não permitiremos que um regime que entoa 'morte à América' consiga obter armas nucleares", disse o Presidente americano.
Donald Trump disse que desde que foram levantadas as sanções económicas em 2015, com a assinatura do acordo, o Irão aumentou o seu orçamento militar e que o regime utilizou os fundos a que passou a ter acesso para desestabilizar o Médio Oriente, nomeadamente a Síria e o Iémen. Agora, disse, os Estados Unidos vão impor sanções económicas do mais alto nível ao regime, mas não só "qualquer nação que ajude o Irão na busca por armas nucleares também poderá ser alvo de sanções".
O objetivo dos americanos, disse, é acabar com um mau acordo que não serve os seus propósitos, tendo permitido apenas que o Irão se fortalecesse e tornasse mais perigoso.
"Esta decisão torna a América mais segura", disse Trump, em resposta a uma jornalista, sem explicar como.
Trump disse ainda que a manutenção do acordo, com o Irão cada vez mais perto de obter uma arma atómica, iria potenciar uma corrida ao armamento nuclear naquela parte do mundo. Contudo, isso é precisamente o que os críticos de Trump dizem que vai acontecer agora com o fim do acordo.
Mensagem ao povo Iraniano
Trump terminou o seu discurso com uma mensagem dirigida diretamente ao povo iraniano.
"O povo americano está convosco. Já passaram quase 40 anos desde que a ditadura tomou o poder e fez refém uma nação orgulhosa", disse. Contudo "o futuro do Irão pertence ao seu povo, os justos herdeiros desta cultura rica e desta terra ancestral".
Agora, concluiu o Presidente americano, os líderes iranianos irão dizer que não estão dispostos a negociar um novo acordo. "Não faz mal, eu provavelmente faria o mesmo se estivesse na posição deles. Mas eles vão querer fazer um novo acordo. E quando esse dia chegar eu estarei pronto, disposto e capaz."
"Coisas muito boas podem acontecer para o Irão", afirmou.
Coreia do Norte
A decisão pré-anunciada de abandonar o acordo com o Irão tem sido descrita por alguns como "ilógica" da parte de Trump no que toca à estratégia norte-americana de não-proliferação. Isto porque está, em simultâneo, a anular um acordo com um dos grandes inimigos do país enquanto tenta negociar um tratado nuclear com outro rival de longa data, a Coreia do Norte.
O tema da Coreia do Norte não ficou, aliás, esquecida e o Presidente referiu-se a ele precisamente para mostrar como o que lhe interessa é encontrar soluções viáveis para a paz.
Segundo o Presidente, o secretário de Estado americano Mike Pompeo está prestes a chegar à Coreia do Norte para tratar dos últimos detalhes do encontro entre Trump e Kim Jong Un, que deverá acontecer em Junho.
Questionado, à saída da sala, sobre se o acordo prevê a libertação dos americanos presos na Coreia do Norte, Donald Trump disse que muito em breve isso será conhecido, mas não se comprometeu com uma resposta.
Reações ao anúncio de Trump
O Irão não pretende abandonar o acordo nuclear assinado em 2015 que foi esta terça-feira “rasgado” pelos Estados Unidos, anunciou o Presidente Hassan Rouhani.
“Se alcançarmos as metas do acordo em cooperação com os outros parceiros do acordo, continuará em vigor. Ao abandonar o acordo, a América está oficialmente a minar o seu empenho num tratado internacional”, declarou o líder do governo de Teerão.
Hassan Rouhani vai aguardar “algumas semanas” e falar com os seus aliados e com os outros países que assinaram o acordo nuclear de 2015, nomeadamente, a França, a Alemanha e o Reino Unido. Num discurso ao país logo após o anúncio de Donald Trump, o Presidente iraniano revelou, ainda, ter dado ordens à Organização de Energia Atómica para estar “preparada para iniciar o enriquecimento de urânio a níveis industriais”.
O secretário-geral das Nações Unidas apela aos restantes países que continuem a cumprir um acordo nuclear com o Irão. Em comunicado, António Guterres mostra-se “profundamente preocupado” com a decisão anunciada esta terça-feira por Donald Trump.
A Alemanha, a França e o Reino Unido lamentam a saída dos Estados Unidos do acordo nuclear celebrado em 2015 com o Irão.
“Apelamos aos EUA que garantam que a estrutura do acordo possa ficar intacto e que se abstenha de tomar ações que possam obstruir a implementação plena por parte das outras partes envolvidas no acordo”, refere um comunicado conjunto divulgado pelo gabinete da primeira-ministra britânica, Theresa May.
O antigo Presidente norte-americano Barack Obama, que assinou o acordo em 2015, considera que a decisão de Trump é um “erro grave”.
O primeiro-ministro israelita felicitou o Presidente norte-americano Donald Trump pela sua decisão em abandonar o acordo nuclear com o Irão e voltar a impor sanções ao país.
"O Presidente Trump tomou uma decisão valente", disse Benjamin Netanyahu, que agradeceu em nome de todos os israelitas as medidas do Presidente dos EUA "para travar a atitude agressiva do Irão".
[Notícia atualizada às 21h03]