A pandemia está a provocar um impacto sem precedentes na formação dos jovens atletas, em Portugal, em todas as modalidades. Um estudo recente do jornal "O Jogo" aponta para menos 173.991 crianças e jovens inscritos nas cinco principais federações desportivas, andebol, basquetebol, futebol, patinagem e voleibol, menos 79% em relação à época passada.
A competição está parada desde março e os efeitos são devastadores para clubes, associações e federações. A falta de pratica desportiva terá um inevitável impacto na saúde mental dos jovens, como refere Jorge Silvério, doutorado em psicologia do desporto.
“O fenómeno da pandemia trouxe o reconhecimento do exercício físico como fator preventivo ao nível de alguns problemas psicológicos como a ansiedade e a depressão. Os jovens que ainda não estão a ter competição vão ter uma série de problemas em termos de saúde mental", explica, antes de continuar.
"Tem havido uma montanha russa de emoções desde a ansiedade provocada pela incerteza porque não se sabe ainda quando as competições vão recomeçar. Ao nível psicológico há outro tipo de consequências como a socialização dos jovens. Andamos muito preocupados porque os jovens estão muito agarrados aos telemóveis, tablets e computadores e o exercício é uma boa maneira de combatermos isso”, analisa.
O exemplo dos Estados Unidos
O número de jovens a praticar exercício e desporto tende a baixar significativamente, o que traduz uma preocupação acrescida. Os Estados Unidos são o exemplo negativo do que pode acontecer em Portugal.
“Vamos ter um grave problema a médio e longo prazo. Já temos números baixos da prática do desporto e esses números vão baixar ainda mais. Nos Estados Unidos, mais ou menos um terço dos jovens atletas não vai voltar ao desporto que estava a praticar antes da pandemia. É uma cultura diferente, mas um indicador mais forte que temos. Os jovens não voltam em parte pelos receios dos pais do que possa acontecer em termos de saúde, porque foram aparecendo outros interesses e porque não está a haver competição”, explica Jorge Silvério.
A paragem das competições jovens desde março também tem reflexos na educação dos jovens pelo papel do desporto como veículo formador.
“Há um aspeto também importante que tem a ver com a transmissão de valores. O desporto é um veículo de excelência para a transmissão desses valores. A tenacidade, o espírito de sacrifício, o respeito pelos outros, o cumprimento das regras, que são proporcionados pelo desporto e não existindo provoca mais um problema na sociedade”, adverte o especialista em psicologia do desporto.
Como minimizar o problema?
Perante um cenário preocupante ao nível dos escalões de formação do desporto em Portugal, Jorge Silvério enumera ferramentas que podem ajudar a combater e minimizar o impacto da pandemia.
“É muito importante que os jovens voltem à prática do exercício e do desporto que praticavam. Respeitando as regras e pondo a saúde acima de tudo. Serão treinos diferentes, mas é importante que existam. Os treinadores têm um papel crucial. Têm de ser criativos na conceção do treino e ter cuidado com o que os jovens vão sentindo. No fundo um papel mais acrescido na educação e formação dos jovens atletas", diz, antes de concluir.
"A ferramenta mais importante em termos de motivação é a formação de objetivos. É fundamental e indispensável. Enquanto os jovens não puderem competir é importante que tenham objetivos de melhoria ao nível físico, técnico, tático e psicológico. É importante trabalharem e melhorarem estes índices para quando as competições recomeçarem, os jovens estarem habituados ficando mais próximos do rendimento desportivo de excelência”, detalha.