A força aérea brasileira começou esta quarta-feira a deslocar os seus ativos para monitorizar o território dos indígenas Yanomami, marcando o início de uma grande operação contra os mineiros ilegais de ouro que arrancará na próxima semana.
"Sabemos a origem do problema: a extração ilegal de ouro está muito presente [em território Yanomami] e será desmantelada (...) Vamos enfrentá-los e cortar o mal pela raiz", assegurou o ministro da Defesa, José Múcio, na terça-feira à noite, numa entrevista ao canal Bandnews.
"Irei ao local na próxima quarta-feira, com os comandantes do exército, força aérea e marinha, assim como o chefe da Polícia Federal", acrescentou, anunciando um "esforço coordenado de todas as instituições" para desalojar os mineiros de ouro.
A operação de controlo do espaço aéreo começou esta quarta-feira, incluindo a colocação de aviões de caça.
"Qualquer voo suspeito será desviado e o avião terá de aterrar para ser identificado", advertiu o ministro.
Na terça-feira, as autoridades brasileiras deram o primeiro golpe contra a mineração ilegal em terras indígenas, confiscando dezenas de aviões utilizados para estas atividades, acusadas de causarem a crise humanitária que afeta os Yanomami.
Pelo menos 24 aviões apreendidos pelas forças de segurança estavam retidos no pátio da Polícia Federal em Boa Vista, capital do estado amazónico de Roraima.
Fontes policiais, citadas pela agência Efe, disseram que outras aeronaves foram destruídas na operação policial lançada contra mineiros ilegais, sem especificar o número.
A operação teve início após o Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, ter assinado na terça-feira um decreto autorizando a detenção de qualquer aeronave suspeita de tráfico de mercadorias ilegais na zona, que faz fronteira com a Venezuela.
Lula da Silva instruiu que o transporte aéreo e fluvial fosse proibido nas terras Yanomami, as maiores do Brasil, onde vivem cerca de 27.000 indígenas e onde se estima que haja cerca de 20.000 mineiros invasores.
A exploração mineira ilegal expandiu-se rapidamente nos últimos anos na região, encorajada pelo antigo presidente brasileiro Jair Bolsonaro (2019-2022), que defendeu a liberalização das atividades em terras indígenas, o que é proibido pela Constituição do Brasil.
O Governo brasileiro decretou o estado de emergência sanitária nas terras Yanomami há 10 dias, quando Lula da Silva visitou a área para ver a situação de abandono em que vivem os povos indígenas da região.
Cerca de 21.000 Yanomami, de uma população de 27.000, foram infetados com malária, muitos sofrem de envenenamento por metais pesados utilizados pelos mineiros ilegais, e um grande número sofre de subnutrição.
O Ministério dos Povos Indígenas estima que "pelo menos 570" crianças Yanomami morreram nos últimos anos "devido à contaminação por mercúrio, desnutrição e fome".
Desde o início da operação de emergência, dezenas de pessoas foram retiradas de helicóptero para a cidade Boa Vista, onde foi instalado um hospital de campo.
Em paralelo, a força aérea distribuiu toneladas de alimentos às aldeias utilizando aviões militares de carga ou helicópteros.
O Supremo Tribunal Federal (STF) ordenou na segunda-feira que o Ministério Público investigasse a possível responsabilidade do Governo de Jair Bolsonaro pela situação dos Yanomami, sob suspeita de um crime de "genocídio".