A procura dos centros de estudos e de explicações está a aumentar à entrada do terceiro período .
O setor confirma a tendência, explicando-a com a ideia de que a suecessão de greves de professores tem dificultado as aprendizagens.
Maria Rosa Carvalho, proprietária da “Academia Klasse A”, em Matosinhos, há 15 anos, confirma que o número de alunos quase que duplicou face ao mesmo período do ano passado: “Notamos uma maior procura, sentimos logo a seguir à pandemia, sentimos que os pais estavam preocupados, e os próprios alunos também, principalmente os do secundário.”
“A procura é imensa, principalmente para Português e Matemática, e a greve dos professores veio agravar ainda mais porque se há escolas que até conseguem ter os serviços mínimos, há outras que não", acrescenta à reportagem da Renascença.
A professora está convencida de que “as dificuldades são transversais aos bons alunos e aos que têm mais dificuldades, e também aos alunos do ensino público e do privado”
No entanto, o problema não se resume aos programas em atraso, uma vez que a docente tem “notado uma falta de conhecimentos básicos que supostamente já deviam estar culminados”
Também Márcia Cardoso Valente, da sala de estudo Periscópio, em Baguim do Monte, Gondomar, diz ter tido um aumento de procura, o que não a surpreende, nesta altura em que os exames se aproximam.
"A greve dos professores não tem ajudado na recuperação”, diz, convencida de que “o aumento da procura está relacionado com a tomada de consciência dos pais de que que a escola, com as sucessivas greves, não está a conseguir dar o apoio devido e cumprir os programas”.
Carla Batista, proprietária do Ginásio da Educação DaVinci, de Vila Nova de Gaia, há cinco anos, diz notar que "os pais estão mais preocupados com as carências educativas dos filhos, em resultado das greves, tanto como da própria pandemia”.
A pedagoga revela que existe uma maior “necessidade de maior acompanhamento e a escola não é capaz de proporcionar uma aprendizagem muito assídua e contínua com estas greves constantes que têm acontecido, pelo que as carências vão-se acumulando”
Pagamentos são cumpridos
A procura aumentou não só no apoio presencial, como no "online," com alunos de outras zonas do país a procurarem os seus serviços da “Academia Klasse A”. Maria Rosa Carvalho diz que os preços “são mais baixos cá”, porque não aumentam há seteou oito anos, tendo em conta o elevado custo de vida
Apesar das dificuldades económicas, os pais fazem “um esforço para que os filhos não fiquem completamente desprotegidos”. Na “Academia Klasse A”, há dois casos de voluntariado, de alunos que iam desistir por motivos económicos, mas como sempre se mostraram interessados e trabalhadores, foram convidados a continuar a frequentar o apoio da sala de estudo gratuitamente.
A sala de estudos DaVinci, não nota, "para já", dificuldades nos pagamentos. "O pagamento é antecipado. Geralmente cumprem, mesmo que se atrasem uns dias”, diz Carla Batista.
Também Márcia Cardoso Valente não tem verificado dificuldades de pagamento, mas explica que os pais “não querem prescindir” do apoio ao estudo
Comparando com o mesmo período do ano passado, Maria Rosa Carvalho diz ter “quase o dobro” de alunos e já não ter sequer capacidade para aceitar novas inscrições.
O centro de estudos de Gondomar tem mais 30 a 40 alunos, comparativamente ao período homólogo de 2022, com cerca de 200 alunos no total. Além das explicações e apoio ao Português e Matemática, também a Física, a Química e a Biologia têm tido muita procura.
Carla Batista realça que as dificuldades de aprendizagem são resultado não só os problemas conjunturais, mas também dos estruturais. “Há lacunas, principalmente, no discurso escrito, não conseguem escrever de forma organizada, às vezes, nem de forma racional. E têm muita dificuldade na interpretação das perguntas.”
Para este quadro, contribuiu a falta de condições nas escolas, nomeadamente, salas com demasiados alunos, mas também o constante recurso ao digital, onde “recebem muita informação e não sabem nada de forma profunda”
Maria Rosa Carvalho apela aos pais que façam não só o esforço financeiro, mas também de apoio cultural e académico, com, por exemplo, “de vez em quando substituir as visitas aos shoppings com visitas a museus” porque no centro de estudos “tentamos motivar, cativar, e acima de tudo que não desistam dos estudos. Os sonhos podem ser realidade, mas também é preciso trabalho. Que é uma coisa que tem sido facilitada pelos pais.”
Quanto à perceção dos alunos no que toca às greves, esta docente considera que “percebem perfeitamente a causa, mas também sentem na pele que estão a ser prejudicados por essas faltas dos professores”