O secretário-geral da União Geral de Trabalhadores (UGT) mostra-se surpreendido com o facto de as sondagens darem a vitória das eleições de domingo à coligação PSD/CDS.
Em Paris, à margem dos trabalhos do Congresso da Confederação Europeia de Sindicatos, o socialista Carlos Silva disse à Renascença que estranha esse comportamento dos eleitores, depois de uma legislatura repleta de dificuldades para os portugueses
“Tenho alguma estranheza como é que o povo português levou pancada durante quatro anos e está disposto a manter a confiança num governo que cortou salários, pensões, reduziu a concertação social a um diálogo de surdos, bloqueou a negociação colectiva, mesmo que se diga que foi por imposição do FMI”, diz.
Ainda assim, o líder da UGT garante que a central sindical está disponível para negociar com qualquer governo que saia das eleições. O desbloqueamento da contratação colectiva, o aumento do salário mínimo, pensões e protecção social são prioridades que a UGT quer discutir a curto prazo.
Carlos Silva confessa que viu com agrado o facto de tanto Passos Coelho com António Costa afirmarem que algumas destas questões serão remetidas para a concertação social.
Salários baixos que geram pobres
O secretário-geral denunciou a existência de dois milhões de pobres em Portugal, muitos deles trabalhadores.
"Temos em Portugal dez milhões de pessoas, dois milhões são pobres. Entre os pobres, há os jovens, os idosos, e também os trabalhadores, pessoas activas que são pobres porque o salário delas não é um salário decente", declarou Carlos Silva, defendendo "um salário mínimo em toda a Europa".
O secretário-geral da UGT falava na conferência de imprensa durante o 13º Congresso da Confederação Europeia de Sindicatos, que começou a 29 de Setembro e que termina esta sexta-feira, a 2 de Outubro, na Maison de la Mutualité, em Paris.
"Portugal tem dois milhões de pobres, está com uma dívida pública elevada, está com um défice elevado, para além das nossas expectativas, continuamos com uma alta taxa de desemprego, temos uma emigração tremenda nos últimos quatro anos. Temos de perguntar o que é que nós queremos quando, depois de quatro anos de austeridade, o nosso país está confrontado ainda com situações de tremenda injustiça social", declarou Carlos Silva à agência Lusa.