A presidente da Liga Portuguesa Contra a Sida, Maria Eugénia Saraiva, considera "preocupante" o crescimento do número de casos de infeção por VIH em Portugal.
Um relatório do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge revela que foram registados em Portugal mais de novos mil casos, no ano de 2017.
Em entrevista à Renascença, Maria Eugénia Saraiva nota que os casos estão a ser diagnosticados mais precocemente, pelo que é “natural que os números aumentam”, mas não deixa de alertar para o problema da escassez de recursos humanos e financeiros necessários para o combate à doença.
Registaram-se mais de mil novos casos de sida em Portugal, em 2017. Que leitura faz destes dados?
É uma leitura preocupante, no sentido em que cada vez mais temos números que apontam para um crescimento de casos de infeção pelo VIH e isso preocupa-nos. Mas temos também que estar atentos, porque houve mais janelas de oportunidade para realizar o teste de rasteio às infeções sexualmente transmissíveis e, por isso, também é natural que neste relatório surgem mais casos de infeção. Se, neste momento, estamos a diagnosticar mais precocemente, é natural que os números aumentem.
Os números vinham a cair há longos anos e subiram em 2017 pela primeira vez...
Esta é uma situação que a Liga Portuguesa Contra a Sida tem falado muitas vezes. Mais do que números, nós falamos de pessoas. Falamos de pessoas que nem sempre têm acesso aos cuidados de saúde primários e às referenciações e, se queremos todos diminuir este número, temos que apostar no diagnóstico precoce, testar, referenciar adequada e atempadamente estas pessoas para os hospitais e investir na prevenção. Por exemplo, junto das escolas, porque temos números a mostrar que os jovens adultos também são uma faixa etária que preocupa. Nas universidades, também temos de falar sobre o VIH, não só no Dia Mundial da Luta Contra a Sida, mas todos os dias do ano.
Tem havido falta de investimento nesta área?
Sabemos que os números sobre a doença também estão relacionados com as finanças e, se há escassez de recursos humanos, existe escassez de recursos financeiros e, enquanto, Liga Portuguesa Contra a Sida, pedimos o apoio a todas as organizações de sociedade civil que têm feito um trabalho meritório e o da Liga Portuguesa Contra a Sida está comprovado há 29 anos.
Penso que tem de haver esta aposta junto de todas as comunidades das organizações da sociedade civil, mas também junto do Ministério da Saúde e do programa nacional para a infeção VIH, porque também eles precisam de ter mais recursos humanos e mais recursos financeiros para poderem apoiar estas organizações.
As metas traçadas para 2020 podem estar em causa?
Não, não estão em causa, porque com instituições como a Liga Portuguesa Contra a Sida, e acredito que o programa também, estamos preocupados em responder ao desafio. Queremos é ser apoiados para poder concretizar essas metas.