O Ministério Público (MP) ordenou a investigação de 716 pagamentos com cartões emitidos por bancos angolanos à empresa informática Questão Flexível, S.A., acusada no processo "Saco Azul", que envolve o Benfica, por suspeitas de fraude fiscal e branqueamento de capitais.
Segundo avança o "Jornal de Notícias", esta quarta-feira, a conta bancária da Questão Flexível registou, no período de um ano, 716 entradas de dinheiro, num total de mais de 469 mil euros, através de um terminal de pagamento automático. Todos os pagamentos, à exceção de uma transação de 15 euros, foram realizados por cartões angolanos.
O procurador Hélder Branco dos Santos ordenou a extração de certidão, para investigação num inquérito, refere o "JN", autónomo da acusação conhecida na terça-feira, no âmbito da operação "Saco Azul".
"JN" e "Expresso" avançaram que o MP acusou Luís Filipe Vieira, ex-presidente do Benfica, Domingos Soares de Oliveira, atual co-CEO da SAD encarnada, Miguel Moreira, ex-diretor financeiro da SAD, a Benfica SAD, a Benfica Estádio, a Questão Flexível e o seu dono, José Bernardes, e mais dois arguidos de fraude fiscal e falsificação de documentos.
O Ministério Público já pediu às autoridades angolanas, por intermédio de carta rogatória, que identificassem os titulares dos 13 cartões utilizados para os pagamentos à Questão Flexível e que eram usados "mais do que uma vez por dia, com a diferença de poucos minutos". O MP acredita que não havia "conexão com a atividade da Questão Flexível".
A operação "Saco Azul" investiga o pagamento de 1,9 milhões de euros do Benfica à Questão Flexível, por serviços de consultoria fictícios.
Luís Filipe Vieira é acusado de três crimes de fraude fiscal e 19 de falsificação. Os mesmos de que estão acusados Miguel Moreira, ex-diretor financeiro da SAD do Benfica, e Domingos Soares de Oliveira.
A SAD do Benfica e a Benfica Estádio são acusadas de fraude fiscal. As duas entidades terão pagado cerca de 1,650 milhões de euros à Questão Flexível, que terá passado faturas para "servirem de base à saída, sob a forma de pagamento de serviço, de dinheiro das contas bancárias tituladas pelas duas sociedades, e obter o seu retomo em numerário, de modo a ser depois utilizado de forma não documentada”.
Tratar-se-iam de "faturas de favor", que serviriam apenas para fazer dinheiro da esfera do Benfica, segundo explica o "JN". Bernardes, que alegadamente cobrava 11% das faturas passadas e terá agido "com consciência e vontade de ser compensado monetariamente", responde pelos crimes de fraude fiscal, falsificação e branqueamento.
O Ministério Público considera que o esquema serviu de fuga aos impostos, tanto de IVA como de IRC, num total de 585 mil euros. Valor que deverá ser pago "solidariamente" por todos os arguidos e do qual 116 mil euros são reclamados à Benfica SAD e 307 mil à Benfica Estádio.