Mais de 360 pessoas foram salvas este ano pelas Forças Armadas, contando com a ajuda de militares como Daniel Silva, Filipe Garcia ou José Rocha da Esquadra 751, que aceitam missões arriscadas "para que os outros vivam".
"A Força Aérea e a Marinha, só este ano, já salvaram mais de 360 vidas", revelou a ministra da Defesa, em declarações à Lusa, após uma operação de treino de uma equipa da Esquadra 751 da Força Aérea Portuguesa (FAP).
Helena Carreiras salientou o trabalho dos militares que, muitas vezes, "vão onde mais nenhuma organização pode ir resgatar pessoas, salvar em terra e em mar".
Por detrás dessas operações, há um treino regular com objetivo de tornar "as missões menos arriscadas", contou à Lusa o major Daniel Silva, comandante da Esquadra 751.
"Nós nunca estamos livres de risco", disse o major, sublinhando que os militares são preparados para atuar de dia e de noite, como aconteceu recentemente com o resgate de uma família em alto-mar que pôs "à prova todas as capacidades" dos tripulantes.
Dessa operação, em que desceram do helicóptero presos por um cabo e enfrentaram uma ondulação superior a seis metros, o major salientou também a coragem da criança de cinco anos a bordo do veleiro.
"A menina atirou-se para a água para ser resgatada por um helicóptero, a meio da noite: É um ato e um símbolo de coragem e de resiliência", recordou o comandante da Esquadra conhecida pelas "missões desafiantes".
Com 22 anos de serviço e 12 de Esquadra, o piloto-aviador Daniel Silva acumulou já milhares de horas de voo e muitas histórias, mas são os poucos casos de insucesso os que "mais marcam": "Ficamos sentidos quando não conseguimos salvar", desabafou.
Entre as numerosas missões lembrou o dia em que salvaram 22 elementos de um navio em chamas ou os quatro náufragos resgatados de madrugada, já em sinais de hipotermia, em cima de rochas, numa zona sem acesso por terra.
A taxa de sucesso das operações de busca e salvamento em Portugal é superior a 90%, sendo "uma referência a nível internacional", sublinhou Manuel Costa, porta-voz e relações públicas da FAP.
Para o sucesso das operações, "os treinos são essenciais", disse o major, acrescentando que, em média, "é preciso revalidar a maioria das competências de buscas e salvamento de 45 em 45 dias".
Esta semana, uma equipa fez uma simulação de salvamento usando um dos 12 helicópteros Merlin da Esquadra, que partiu de Figo Maduro rumo à Lagoa de Albufeira com a missão de resgatar um "ferido" a bordo de um navio.
A tripulação, composta por cinco elementos, "tem de funcionar como um relógio suíço", contou o major.
No Merlin seguiu o piloto comandante e o copiloto, acompanhado pelo enfermeiro Filipe Garcia, o operador de sistemas, José Rocha, e o recuperador salvador, a quem cabe a missão de resgatar as vítimas para dentro do helicóptero, descendo até ao local preso por um cabo.
No momento em que o helicóptero se aproxima das vítimas, quem vai aos comandos perde o campo de visão necessário para fazer a aproximação. O trabalho do operador de sistemas torna-se essencial. "Os pilotos não conseguem ver o que está lá em baixo e ele é os olhos do piloto", explicou o major.
Neste treino, José Rocha foi quem deu as indicações espaciais, fazendo lembrar um relato radiofónico de futebol, que só termina quando voltam a estar todos a bordo. A porta abre-se, o operador de sistemas, preso ao helicóptero, debruça-se para o exterior e começa a dar indicações: "Dois em frente. Um à direita. Um atrás. Um à esquerda", diz pelo sistema de rádio, numa clara referência a localizações espaciais só percetíveis para os militares a bordo.
Depois de descer a equipa e colocar a vítima na maca, começa a operação inversa de regresso à aeronave que termina quando todos os elementos voltam a estar engatados "à linha de vida", o cabo de segurança que os liga de novo ao Merlin.
Sob o lema "Para que os outros vivam", a Esquadra 571 já salvou mais de cinco mil pessoas desde que foi criada, em 1978.
Além da Base Aérea do Montijo, os militares são muitas vezes destacados para os Açores ou para a Madeira. Os militares lamentam apenas ter de ficar longos períodos de tempo longe de casa. "Um tripulante da esquadra 751 permanece longe da sua família entre três a cinco meses por ano", resumiu o major, reconhecendo que esta "é a parte menos boa da missão".
No entanto, sublinhou, a Esquadra 751 tem "a missão mais nobre da Força Aérea Portuguesa: que é salvar vidas".