O presidente francês, Emmanuel Macron, pediu esta quarta-feira que os principais partidos da França unam forças para formar uma maioria de "valores republicanos" na Assembleia Nacional. Foi a primeira reação de Macron desde a segunda volta das eleições antecipadas de domingo, em que a extrema-direita foi derrotada mas nenhum grupo conseguiu a maioria dos lugares.
A eleição, convocada por Macron inesperadamente depois de perder para o União Nacional (RN), de extrema-direita, nas eleições europeias, mergulhou a França em águas desconhecidas, com três blocos politicamente divergentes e nenhum caminho óbvio para formar um governo.
"Ninguém ganhou. Nenhuma força política conquistou uma maioria suficiente por si só", declarou Emmanuel Macron numa carta publicada nos jornais regionais. "Os blocos ou coligações que surgiram destas eleições representam todos uma minoria", sublinhou.
O campo centrista de Macron ficou em segundo lugar e o União Nacional em terceiro. Os terceiros colocados da esquerda e do centro retiraram-se da segunda volta para evitar a divisão do voto contra a União Nacional, minando as esperanças da extrema-direita de obter a maioria e formar um governo.
A tradição diz que o Presidente pediria ao maior grupo parlamentar, neste caso o bloco de esquerda, para formar um governo, mas nada na Constituição o obriga a fazê-lo. "Como Presidente da República, sou tanto o protetor dos interesses da nação e o garante das instituições e do respeito pela vossa escolha", declarou.
O profundamente impopular Macron apelou aos principais partidos com “valores republicanos” para formarem uma coligação governamental e disse que esperava escolher um primeiro-ministro de tal grupo.
"Esta união deve ser construída à volta de alguns valores principais para o país, valores republicanos partilhados e claros, um projeto pragmático e legível e ter em conta as preocupações que vocês expressaram nas eleições", esclareceu Emmanuel Macron.
“Coloquemos a nossa esperança na capacidade dos nossos líderes políticos em demonstrar sentido, harmonia e calma no seu interesse e no do país”, escreveu Macron. “É à luz destes princípios que decidirei sobre a nomeação do primeiro-ministro.”
No dia após as eleições, Emmanuel Macron optou por não aceitar a demissão de Gabriel Attal, pedindo que o primeiro-ministro fique no cargo "por enquanto".
Macron não apelou explicitamente à exclusão do União Nacional ou da França Insubmissa de uma coligação governamental, mas a menção aos “valores republicanos” é normalmente entendida como uma exclusão dos partidos da extrema-esquerda ou da extrema-direita.
Vários deputados da França Insubmissa reagiram à carta de Macron, dizendo que o Presidente deveria aceitar a escolha da aliança de esquerda para primeiro-ministro assim que esta fizesse uma proposta, e permitir que o bloco formasse um governo.
“O melhor que ele pode fazer pelo país nesta fase é permitir que o grupo que conquistou mais assentos, a Nova Frente Popular, governe. Quaisquer outras maquinações seriam verdadeiramente problemáticas e perigosas para a democracia”, disse Eric Coquerel no canal LCI.