Aitor Karanka, em entrevista exclusiva a Bola Branca, diz que será tomada uma decisão "sem precipitações", mas admite que Lisboa pode substituir Istambul como o palco da decisão da presente edição da Liga dos Campeões.
Depois de a cidade turca ter reconhecido que não estaria em condições para receber a prova milionária, sendo esta jogada à porta fechada, a UEFA passou a ponderar a disputa dos quartos de final, meias-finais (a uma só mão) e final na capital portuguesa.
O objetivo passa por realizar as partidas entre os estádios da Luz (Benfica) e Alvalade (Sporting). Em simultâneo, recorde-se, o próprio Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já deu a entender que a Champions desta temporada poderá concluir-se em Portugal, ao falar de "boa notícia" para o nosso país em "termos de futebol internacional".
Atual observador da UEFA, e antigo campeão europeu pelo Real Madrid (1998, 2000 e 2002), Karanka garante que o organismo que gere o futebol europeu jamais tomará uma decisão de ânimo leve.
Todavia, Portugal, e Lisboa em particular, perfila-se como uma alternativa válida em face da forma como as autoridades lusas lidaram com a crise de saúde que atravessamos. De resto, esse será um dos critérios a levar em conta.
"A forma como Portugal geriu a pandemia torna claro que seria uma opção [a Istambul]. Todas as notícias que chegam da forma como Portugal geriu a pandemia, os números de falecidos, os números de contagiados, levaram a que se olhasse para Portugal", observa.
A UEFA deverá anunciar uma decisão a 17 de junho, dia da próxima reunião do Comité Executivo, mas Karanka admite que será sempre "complicado".
"Agora começam os campeonatos. Há equipas como o PSG, apuradas, mas que não estão a jogar. É uma decisão complicada e muito difícil de tomar. Creio que a UEFA não tomará uma decisão precipitada. Vai ver primeiro como evoluem as Ligas. Quando se atingir alguma normalidade, julgo que será tomada essa decisão", afirma o antigo defesa, que faz parte do painel de especialistas que escolhem o "homem do jogo" nos desafios da Liga dos Campeões.
Mais tarde, ou mais cedo, voltarão os negócios de milhões
A decisão de "marcha-atrás" de Istambul prende-se com questões financeiras, nomeadamente com a incapacidade de rentabilizar - no atual contexto - uma organização como a final da Champions. Trata-se de um problema que atingiu, atinge e vai continuar a atingir o futebol. Resta saber por quanto tempo.
Nesta entrevista exclusiva a Bola Branca, Aitor Karanka considera que ainda haverá um caminho longo a percorrer, mas findo o qual assistiremos a um regresso a um passado recente. O dos milhões em transferências, por exemplo.
"Vai demorar tempo e depende de como se retomará esse caminho, mas voltará, creio que sim. Porque o futebol move muito dinheiro, muito negócio. Cada vez movia mais. E creio que isso regressará, mas demorará. O pior de tudo é que neste processo, os clubes com menor resistência serão aqueles que mais pagarão. Esperemos que no fim, não só no futebol, tudo se normalize. Pouco a pouco", afirma o treinador espanhol, concordando que o setor vivia acima da realidade e era visto como algo superior a muitos outros interesses do quotidiano. E não é, sustenta Karanka.
"Com esta pandemia dás conta de que o futebol passa para segundo, terceiro, quarto ou quinto planos. Muitas vezes também há que relativizar as coisas e, no fim, os jogos não deixam de ter 90 minutos. Haverá mais um jogo no dia seguinte, na semana seguinte. E, quiçá, não só no futebol – mas também na vida em geral – mudamos a perspetiva. E o futebol talvez estivesse num plano mais alto", reconhece o antigo adjunto de José Mourinho, que organiza o "Golden Coach Congress", no fim de semana de 12 e 12 de junho.
Congresso de treinadores reúne figuras do futebol europeu
Um evento "online" no qual participam treinadores como Arsène Wenger, Ernesto Valverde, Vicente Del Bosque, Mauricio Pochettino ou o ex-Benfica José Antonio Camacho. Sem portugueses, mas com inscrições ainda abertas ao universo do futebol em goldencoachcongress.com.
"A ideia é juntar treinadores, juntar diferentes pontos de vista para que as pessoas possam ver desde as suas casas. Nesta fase [de pandemia] que atravessamos, este é um desafio para os treinadores, com as novas regras, com as cinco substituições. E será apaixonante observar como é que cada treinador vai gerir todas as condicionantes que terá a partir de agora", explica, a finalizar.
Aitor Karanka, de 46 anos, foi internacional espanhol e três vezes campeão europeu pelo Real Madrid. Basco de Vitória, dividiu a carreira entre os "merengues" e o Atlético de Bilbau. Terminou a carreira em 2016, nos Estados Unidos, com a camisola do Colorado Rapids.
Depois de uma experiência a treinar seleções jovens de Espanha, Karanka regressou ao Real Madrid, como adjunto de José Mourinho. Deixou a capital espanhola quando Mourinho saiu e rumou a Inglaterra. Depois de quatro épocas no Middlesbrough, em que conseguiu devolver o clube à Premier League, foi demitido em 2016/17. Na época seguinte assinou pelo Nottingham Forest, do Championship, onde esteve até à temporada passada.