José Maria Ricciardi comunicou ao ex-governador do Banco de Portugal (BdP) que tinha a sensação de que havia um “banco dentro do banco” nove meses antes da queda do Banco Espírito Santo (BES), mas o supervisor disse-lhe para “estar quieto” e “assobiou para o lado”.
O ex-administrador do BES, em audição no Campus da Justiça durante o julgamento do caso BES, sentiu a necessidade de comunicar ao órgão que supervisiona os bancos por sentir “completamente incomportável” a situação no banco, na figura de Ricardo Salgado, que “centralizava o poder”.
“Tinha a sensação que havia um banco dentro do banco e de que havia uma data de coisas que se passava entre os administradores”, afirma a testemunha, que fez parte do Conselho Superior do GES até 2014.
Na reunião com Carlos Costa, Ricciardi disse-lhe que pretendia demitir-se e que não queria ficar no Grupo Espírito Santo para “mais tarde arcar com responsabilidades” de atos em que não esteve envolvido.
A resposta de Carlos Costa foi negativa, indicando que uma guerra entre primos “estava a perturbar o setor financeiro”.
“Carlos Costa assobiou para o lado, não quis saber de nada e disse-me para estar quieto”, indicou.
Numa nova mensagem ao governador, em dezembro de 2013, após reunião em novembro do mesmo ano - e antes da resolução do BES em agosto de 2014 -, Ricciardi fala de como estava contra a maneira de Salgado liderar o banco e o grupo.
“Manifestei a minha discordância sobre a forma como tem sido exercido a liderança executiva , em que tem prevalecido a centralização do poder na pessoa do Presidente da Comissão Executiva”, refere a missiva apresentada em julgamento.
Até ao momento, apenas o Ministério Público interviu na audição a José Maria Ricciardi, faltando ainda os assistentes, arguidos e coletivo de juízes questionarem o antigo administrador do BES. Assim, a juíza Helena Susano decidiu que o ex-administrador voltará ao Campus da Justiça esta sexta-feira, para a sessão da manhã e da tarde.