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O coronavírus atrasou a minha entrada no Reino da Arábia Saudita em quase três meses, porque a embaixada saudita em Londres não estava a processar novos vistos. Como novo docente num colégio internacional, isso deu-me algum tempo extra para passar com a minha família antes de embarcar. Eventualmente a embaixada aceitou processar os vistos para novos professores e outros funcionários essenciais, e parti em meados de outubro.
Há nove anos que estamos no estrangeiro juntos, mas os nossos dois filhos chegaram agora a uma fase na sua educação em que achámos melhor eles ficarem no Reino Unido, por isso a minha mulher ficou com eles enquanto eu viajo. Quando estava a candidatar-me a novos empregos nos tempos pré-pandémicos, a Arábia Saudita parecia uma opção excelente: Poderia viajar para o Reino Unido para ver a minha família durante as férias, ou eles poderiam ir ter comigo e apanhar sol. Mas com a Covid, quando chegar ao Reino Unido para o Natal vou ter de passar quase todo o tempo em quarentena e depois, quando regressar a Ríade vou ter de ficar mais três dias de quarentena. Voltar para as férias intercalares em fevereiro não me parece viável.
Para entrar no Reino saudita é preciso mostrar um teste negativo e mesmo assim são necessários três dias de quarentena após a chegada. A minha escola forneceu tudo o que possa precisar no meu apartamento – comida, água, internet, televisão, etc. e fui visitado por uma equipa de médicos ao quarto dia para fazer um teste. O resultado foi negativo e no dia seguinte pude sair para começar a instalar-me na Arábia Saudita, fazer exames médicos, abrir uma conta, comprar um cartão para o telemóvel.
Depois de ter tido um verão bastante abrigado no Reino Unido, foi um choque chegar ao IKEA de Ríade para fazer umas compras lá para casa. A escola forneceu toda a mobília, mas com o ensino à distância a manter-se queria uma boa cadeira. Lá dentro, contudo, o ambiente era calmo e educado e quase toda a gente se esforçava para manter as distâncias sociais. Como qualquer outro IKEA no mundo, era demasiado grande, um pouco labiríntico e nunca tinha funcionários suficientes nas caixas.
A Arábia Saudita entrou em confinamento em março e parece ter tido algum sucesso na contenção do vírus. Os números de casos são relativamente baixos, sobretudo se comparado com a Europa e os Estados Unidos. Está em curso um novo normal e as pessoas usam máscaras tanto nas lojas e nos centros comerciais como na rua. Muitos supermercados adotaram as mesmas precauções que no Reino Unido – gel desinfetante à entrada e toalhetes para limpar as pegas dos carrinhos de compras e à entrada de supermercados ou centros comerciais um segurança tira-nos a temperatura com um daqueles termómetros de mão.
Só cheguei a Ríade há um mês e como na minha escola ainda estamos a dar aulas à distância a experiência tem sido uma de bastante isolamento. Cada vez mais os meus alunos falam da sua vontade de voltar à “escola verdadeira”, por isso estão claramente a sentir-se isolados também.
Eu vivo num condomínio esplêndido, com muitos outros colegas, mas ainda só conheci uma mão cheia de pessoas. Tem havido alguns casos positivos no condomínio nas últimas duas semanas, por isso as pessoas estão a ter muito cuidado, uma vez que as férias de Natal se aproximam e ninguém quer arriscar adoecer e não poder voar para casa.
Falo regularmente com a minha família por Skype, passos os dias a jogar xadrez e todas as semanas faço um quiz com amigos espalhados pelo Reino Unido. Agora que a hora atrasou no Reino Unido isso quer dizer que fico acordado até à meia-noite para o quis, mas gosto do contacto social. Uma das coisas positivas sobre esta pandemia é a forma como tem encorajado pessoas em todo o mundo a manterem-se em contacto com mais frequência, independentemente da distância.
Os meus olhos estão a começar a sentir os efeitos de passar seis horas por dia a olhar para um ecrã durante as aulas à distância e tenho estado a usar muito mais os óculos e frequentemente chego ao fim do dia com dores de cabeça. É um estilo de ensino muito diferente que torna obsoletas muitas das técnicas de gestão de comportamento que adotei ao longo da minha carreira, como a linguagem corporal e o contacto visual, por isso tive de aprender novos truques para captar a atenção dos meus alunos, de seis e sete anos, que estão à demasiado tempo a ter aulas por computador. A famosa frase “quem está a ouvir” foi substituída por “desliguem os microfones”.
Com tanto tempo de ecrã, torna-se essencial poder dar passeios na frescura do entardecer à volta do condomínio. Nestes dias de novembro o tempo está ótimo – a arrefecer e com o vento a levantar, o que tende a encher o meu apartamento de areia. Ríade situa-se num planalto, por isso no inverno o frio pode apertar, chegam a estar dois graus centígrados em janeiro.
Demora cerca de trinta minutos a andar à volta do perímetro do condomínio, incluindo as várias piscinas, parques infantis, campos de ténis, minimercado, padaria e centro desportivo coberto. As crianças parecem estar bastante contentes, vivendo de uma forma normal e brincando com os amigos. A única diferença é que não vão para a escola desde março. O Governo ainda não decidiu se as escolas reabrem em janeiro, ou não. Investiram-se milhões num programa de aprendizagem remota, por isso muitos pensam que as escolas possam continuar fechadas até depois do Ramadão, em abril, o que daria mais de um ano de ensino à distância.
Espero conseguir ver mais da Arábia Saudita depois das férias do Natal. Perto de Ríade há uma enorme escarpa no deserto chamada Fim do Mundo e gostaria também de visitar Al Turaif, a noroeste, que é património mundial. Se tudo correr bem as várias vacinas de que se fala já terão sido administradas em larga escala em 2021. Estou ansioso para que a minha família me possa vir visitar, por menos restrições às viagens e o regresso de algo que se pareça com a velha normalidade.
Anthony Addis é um professor britânico que está na Arábia Saudita há poucos meses. É casado e tem dois filhos, mas a família está no Reino Unido.