As crianças iranianas representam 14% das mortes totais de manifestantes e observadores registadas pela Amnistia Internacional desde o início das manifestações no país, segundo uma pesquisa atualizada divulgada sexta-feira pela Amnistia Internacional - Portugal.
A pesquisa detalha os nomes de pelo menos 44 crianças alvo de assassinato pelas forças de segurança do Irão, cujas famílias sofreram uma "violência impiedosa" e foram condenadas a uma "tristeza inconsolável" e "extrema angústia mental" motivadas por restrições cruéis aos enterros das crianças, com o objetivo de impôr o silêncio.
"Essas práticas violam a proibição absoluta de tratamento ou punição cruel, desumana e degradante", afirma a diretora regional da Amnistia Internacional para o Médio Oriente e Norte da África, Heba Morayef, em comunicado divulgado pela Amnistia Internacional - Portugal.
A organização denuncia ainda que, rotineiramente, as autoridades iranianas "assediaram e intimidaram" as famílias das crianças vítimas, para coagi-las ao silêncio ou forçá-las a aceitar narrativas que absolvem as autoridades da responsabilidade pelas mortes, em declarações escritas ou gravações de vídeo transmitidas pela televisão estatal.
A Amnistia Internacional identificou tais práticas contra familiares de pelo menos 13 crianças assassinadas, e que foram sujeitos a coerção, incluindo prisão e detenção arbitrária, ameaças de enterrar os corpos das crianças em local não identificado e de matar, estuprar, deter ou de outras formas prejudicar os pais enlutados e outras das suas crianças sobreviventes.
"O recente estabelecimento de uma missão de investigação das Nações Unidas para recolher, consolidar e analisar evidências de tais violações envia uma mensagem clara às autoridades iranianas de que elas não podem mais cometer crimes ao abrigo do direito internacional e outras violações graves dos direitos humanos sem medo das consequências", defende a organização.
A Amnistia Internacional apela a todos os países que exerçam jurisdição universal para investigar criminalmente as autoridades iranianas envolvidas em ataques militarizados a manifestantes, incluindo crianças.
A pesquisa, hoje divulgada, mostra que as forças de segurança do Irão dispararam com balas reais no coração, cabeça ou outros órgãos vitais de 34 crianças e que, pelo menos quatro, foram mortas por balas disparadas queima-roupa pelas forças de segurança.
Cinco outras crianças, quatro meninas e um menino, morreram devido a ferimentos decorrentes de espancamentos fatais, e uma menina foi morta após ser atingida na cabeça por uma bomba de gás lacrimogéneo.
As vítimas infantis registadas incluem 39 rapazes, com idades entre os dois e os 17 anos, e cinco raparigas, três das quais com 16 anos, uma com 17 anos e uma com seis anos.
Deste modo, as crianças representam 14% do total de mortes de manifestantes registadas pela Amnistia Internacional, que ultrapassam um total de 300 desde o início dos protestos.
"As nossas investigações sobre assassinatos cometidos pelas forças de segurança continuam e acredita-se que o número de mortos, incluindo crianças, ainda é maior", conclui a organização.