O ex-primeiro-ministro irlandês Enda Kenny defendeu este domingo que a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) afetará Portugal e outros países de menor dimensão, que perderão um aliado que tem bloqueado políticas que favorecem países maiores.
Intervindo no último dia da Universidade Europa, na Figueira da Foz, Enda Kenny, que liderou o Governo irlandês durante seis anos, entre 2011 e 2017, avisou que Portugal e outros países como a Irlanda, Holanda, Dinamarca ou Bélgica, serão afetados no xadrez político pós-Brexit.
"O Reino Unido foi sempre um bloqueador contra os países maiores, países de grandes números, como a Alemanha e França. E sempre esteve com os mais pequenos, bloqueou decisões que podiam não ser do interesse dos mais pequenos. E isso vai desaparecer agora", avisou Enda Kenny.
De acordo com o ex-governante irlandês, com a saída do Reino Unido, os países mais pequenos "poderão vir a formar alianças para se protegerem da possibilidade, e é só uma possibilidade, de os maiores se quererem impor".
Perante perguntas da assistência, constituída por cerca de 70 militantes e simpatizantes da Juventude Social-Democrata, Enda Kenny recusou que de futuro a Europa seja a "Europa do medo".
"Não vai ser a Europa do medo, poderá ser a Europa da incerteza a não ser que haja lideranças claras e fortes. Mas não concordo ou aceito que vá existir uma Europa do medo", sublinhou.
No final da sessão, em declarações à Lusa, Enda Kenny defendeu que a UE "estaria melhor com o Reino Unido como membro de pleno direito" e reafirmou que enquanto o Reino Unido se mantiver na Europa a 28, os países mais pequenos possuem um aliado e um mecanismo de bloqueio contra "certas propostas" que beneficiam os países maiores.
"Obviamente, que se o Reino Unido sair, os países mais pequenos irão caminhar juntos numa situação nova. Mas o Brexit afeta toda a gente e diminui a UE como entidade", argumentou.
A saída do Reino Unido da UE está prevista para o próximo dia 29 de março.