Lentamente, os violentos distúrbios em França começaram nesta semana a abrandar. Distúrbios que, de Paris, alastraram a outras cidades francesas.
Os tumultos iniciaram-se na terça-feira, 27 de junho, depois de a polícia ter morto a tiro um jovem de origem argelina, de 17 anos, que alegadamente se terá recusado a parar numa operação “stop”.
A descrição do que se passou varia entre o que conta a polícia e o testemunho de acompanhantes do rapaz baleado. Mas impressiona que a polícia francesa tenha, em 2022, atirado a matar sobre condutores de automóvel 13 vezes. A ONU, através do seu departamento de direitos humanos, solicitou a França que encare seriamente o grave problema de racismo e discriminação na aplicação da lei.
Foram manifestações de grande violência, com centenas de carros incendiados, vidros de lojas partidos e lojas assaltadas, escolas destruídas, autocarros em chamas, etc. Na noite de domingo foi atacada com um carro incendiado a residência de um autarca próximo de Paris, ferindo a sua mulher.
Numerosas personalidades apelaram à calma e ao fim do vandalismo. Mas realmente eficaz terá sido o apelo, nesse sentido, da avó do rapaz baleado. Um apelo impressionante de autenticidade de uma pessoa profundamente chocada pela morte do neto.
Estas manifestações evidenciaram o fraco grau de integração na sociedade francesa de famílias de imigrantes, vivendo em zonas urbanas degradadas. É um problema de fundo que as autoridades francesas tardam a encarar a sério – e que explica a popularidade de Marine Le Pen, de extrema-direita e anti-imigrante (que se diz ter muitos adeptos entre as polícias).
Mas as manifestações violentas não são um exclusivo de imigrantes mal integrados. Recorde-se o movimento dos “coletes amarelos”, protestando em 2018, inicialmente contra a subida do preço dos combustíveis e depois contra tudo que Macron fez ou deixou de fazer. Depois, tivemos longas manifestações contra a subida da idade da reforma de 62 para 64 anos (que se concretizou).
A tendência de os franceses virem para a rua protestar contra o que não lhes agrada não é recente. Mas com Macron atingiu especial virulência. Talvez porque o chefe de Estado francês nunca conseguiu ultrapassar uma certa imagem de arrogância.
Macron cumpre penosamente o seu segundo e último mandato presidencial. Sucessivas sondagens mostram que ele é rejeitado pela maioria dos franceses, porventura injustamente. Até que ponto será possível, em democracia, um alto governante manter-se no poder contra a vontade da opinião pública? Os próximos anos o dirão.