Há já quem considere o primeiro balde de água fria para os que esperam grandes reformas deste sínodo. Esta segunda-feira, a intervenção orientadora dos trabalhos feita pelo cardeal Péter Erdö, relator-geral do sínodo, deixou clara a doutrina da Igreja sobre as pessoas que vivem em uniões irregulares, como os divorciados recasados.
“Na busca de soluções pastorais para as dificuldades de certos divorciados que voltaram a casar civilmente, deve-se considerar que a fidelidade à indissolubilidade do matrimónio não pode ser conjugada com o reconhecimento prático da bondade de situações concretas, que lhe são opostas e, por isso, inconciliáveis. Entre o verdadeiro e o falso, entre o bem e o mal, de facto, não há gradualidade", disse Erdö.
O cardeal referia-se à ideia, lançada no último sínodo pelo cardeal Walter Kasper, de permitir em certas situações que pessoas em uniões irregulares acedam aos sacramentos. A noção de gradualidade a que se refere o cardeal húngaro diz respeito à ideia de que há graus de gravidade de pecados e de situações moralmente erradas. Assim, por exemplo, uma mulher que tenha sido abandonada e que mais tarde venha a casar de novo civilmente não estará na mesma situação moral que outra que o seu ex-marido que foi responsável pelo fim do primeiro casamento. O cardeal rejeita, contudo, esta visão, considerando que nem num, nem noutro caso a pessoa poderá receber comunhão se viver num segundo casamento civil.
Com igual clareza, o cardeal Erdö também se referiu às uniões homossexuais, rejeitando que possam ser equiparadas a casamento. "A Igreja ensina que não existe nenhum fundamento para assemelhar ou estabelecer analogias, nem sequer remotas, entre as uniões homossexuais e o desígnio de Deus sobre o matrimónio e a família."
Na conferência de imprensa que decorreu esta segunda-feira no Vaticano, também o cardeal André Vingt-Trois, presidente delegado do Sínodo, avisou os jornalistas que não esperem destes dias novidades doutrinais sobre o tema da família.