Um processo de aquisição traumático, uma vaga de despedimentos, um novo líder - Elon Musk - com uma gestão (aparentemente) caótica e um "perdão" a Donald Trump. Os últimos meses da rede social Twitter têm sido uma montanha russa e a viagem ainda pode estar só a começar.
Criado em 2006, primeiro com mensagens de 140 e depois de 280 caracteres, depressa se tornou numa ferramenta imprescindível para muitos setores da sociedade. Em Portugal, um pouco à semelhança de todo o mundo, políticos, jornalistas, economistas, professores, entre muitos outros, mais ou menos conhecidos, elegeram o Twitter, tornando-o, nos primeiros tempos, numa rede associada a grupos de privilegiados ou dotados de algum poder com necessidade de comunicar globalmente.
De Barack Obama ao Papa Francisco, passando por Cristiano Ronaldo ou artistas como Rihanna e Justin Bieber, entre muitas outras figuras públicas, o objetivo sempre foi chegar a mais pessoas espalhadas pelos quatro cantos do mundo, algo só possível com o Twitter.
Sempre debaixo de olho de Elon Musk, o fundador da SpaceX e da Tesla, este instrumento de “poder” está a viver dias alucinantes.
“O pássaro foi libertado”
Entre avanços e recuos, desde abril a outubro, com muitas controvérsias pelo meio, finalmente, o bilionário Elon Musk fechou o negócio, pagando 44 mil milhões de dólares (cerca de 42 mil milhões de euros).
Ousado, entrou pela sede do Twitter dentro, no dia 28 de outubro, com um lavatório nas mãos, o que muitos interpretaram como sendo sinal de uma renovação profunda na empresa.
“O pássaro foi libertado”, afirmou Musk, depois de ter confirmado a compra junto dos acionistas.
Sem meias medidas, de uma assentada, demitiu o presidente-executivo, Parag Agrawal, o diretor financeiro, Ned Segal, e o chefe de assuntos jurídicos e de políticas, Vijaya Gadde.
"You're fired" (Estão despedidos)
Contudo, o pior estava ainda por chegar. Elon Musk assumiu os comandos do Twitter e começou a fazer planos para despedir cerca de metade dos 7.500 trabalhadores da multinacional.
À caixa de correio dos funcionários do Twitter chegou, depois, um polémico email, onde Musk lhes comunicava que teriam de passar a trabalhar “longas horas, sob alta intensidade”, caso contrário seriam forçados a aceitar uma proposta de despedimento coletivo, com direito a apenas três salários de indemnização.
O homem mais rico do mundo afirmava não ter "escolha" em relação aos cortes, pois o Twitter estava a perder 4 milhões de dólares (3,8 milhões de euros) por dia, atribuindo a responsabilidade destas perdas a "grupos de ativistas que pressionavam os anunciantes" para uma "queda maciça nas receitas".
Mais tarde, o empresário também anunciou aos funcionários do Twitter o fim da possibilidade de trabalho remoto, garantindo que estes "tempos difíceis" vão passar.
As medidas provocaram uma debandada de funcionários, desgastados com as pressões de Musk, obrigando o multimilionário a recuar e a tentar readmitir alguns trabalhadores.
Instalações encerradas
A situação acabou por ter como consequência o encerramento dos escritórios do Twitter até esta segunda-feira, dia 21 de novembro, ainda que não tenha sido dada qualquer explicação.
De acordo com a BBC, a decisão estaria associada a relatos de que um grande número de funcionários que se terá demitido depois do novo patrão desta rede social ter enviado o email ameaçador.
Até à aquisição por Elon Musk, a empresa tinha cerca de 7.500 funcionários. Desconhece-se por agora, quantos se terão demitido em protesto contra as novas regras impostas pelo novo gestor.
Contas certificadas só a pagar
No início de novembro, Elon Musk anunciou o lançamento de uma subscrição de oito dólares (oito euros) por mês para os utilizadores certificarem a sua conta e estarem menos expostos à publicidade.
O anúncio foi feito no Twitter, explicando que, no futuro, esse preço será ajustado por país, em proporção com o poder de compra, mas não foi bem acolhido por muitos utilizadores.
A medida também coloca em causa a fiabilidade da rede social, uma vez que poderá ser mais difícil identificar os proprietários de contas e ajudar a disseminar contas falsas ou "bots".
Musk também anunciou que as contas do Twitter que utilizemidentidades fictícias sem especificar claramente que são uma paródia vão ser banidas daquela rede social.
Sondagem para reativar conta de Trump
Desta “novela” dos poderosos, pelo meio, no último fim de semana, Musk lançou ainda uma sondagem na rede social em que pedia aos utilizadores para votarem sobre a reintegração ou não do ex-presidente dos EUA , Donald Trump, na plataforma.
E, apesar do ex-Presidente dos Estados Unidos ter dito que não tinha interesse em regressar ao Twitter, mesmo depois de uma pequena maioria votar a favor da sua reintegração, o bilionário anunciou que repôs a conta de Trump.
"O povo falou. Trump será reintegrado. Vox Populi, Vox Dei [A voz do povo é a voz de Deus]," anunciou Musk no Twitter.
De acordo com os resultados da sondagem, publicados por Musk, que recebeu mais de 15 milhões de votos, 51,8% revelaram ser a favor do restabelecimento da conta de Trump, enquanto 48,2% votaram contra.
Também a conta de Kanye West no Twitter voltou ao ativo por iniciativa de Musk. O músico tinha sido suspenso devido às suas declarações antissemitas.
Na sua primeira publicação para testar se já estava desbloqueado, o artista deixou uma saudação em hebraico.