As autoridades birmanesas detiveram 16 pessoas, incluindo sete militares, pelo seu papel no massacre de 10 homens de etnia rohingya, disse este domingo Zaw Htay, um porta-voz governamental.
O massacre, que terá ocorrido em setembro, foi conhecido nos últimos dias depois de dois jornalistas birmaneses, da agência Reuters, terem dado a conhecer os detalhes do que se passou na aldeia de Inn Din, no estado de Rakhine, onde a comunidade rohingya se queixa de perseguição e limpeza étnica.
Segundo a reportagem da Reuters, que cita civis rohingya e também aldeãos budistas que participaram no massacre, as dez vítimas foram escolhidas aleatoriamente de um grupo de centenas de rohingyas que se tinham refugiado numa praia próxima. Esta versão contraria a oficial do Governo, de que os homens fariam parte de um grupo que tinha atacado os militares birmaneses.
Os homens foram então obrigados a ajoelhar na terra, como se vê numa fotografia que foi amplamente divulgada, enquanto aldeãos budistas cavavam uma pequena vala. Ainda segundo a Reuters, alguns dos aldeãos mataram três dos civis a golpes de espada e catana enquanto os restantes sete foram assassinados pelos soldados a tiro, sendo os corpos depositados na vala.
A divulgação dos factos pela Reuters abalou o regime birmanês, que não hesitou em prender os dois jornalistas daquele país responsáveis pela reportagem. Dois polícias também foram detidos. Os quatro enfrentam agora a acusação de divulgação de segredos de Estado, que acarreta uma pena de até 14 anos de cadeia.
Mas este domingo o Governo veio dizer que também ia tomar medidas contra os envolvidos no massacre, dizendo que não negava que tinha havido violações de direitos humanos mas garantindo que a investigação sobre as mortes em Inn Din nada tinha tido a ver com a reportagem
“A investigação já estava a ser conduzida antes da reportagem da Reuters”, afirmou Zaw Htay.
A detenção dos jornalistas causou muita polémica, com vários países e órgãos de informação a manifestar a sua preocupação. O ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Boris Johnson, está de visita à região e já afirmou que vai abordar o assunto dos jornalistas Wa Lone e Kyaw Soe Oo quando se encontrar com a líder birmanesa Aung San Suu Kyi.
O conflito no Estado de Rakhine tem levado à fuga de centenas de milhares de muçulmanos de etnia rohingya para o Bangladesh. A comunidade está há séculos no Myanmar, antiga Birmânia, mas os seus membros não são considerados birmaneses pelo regime, que diz que são bengalis.
O assunto foi central na visita do Papa Francisco ao país no final de 2017.