O Presidente deposto do Gabão, Ali Bongo, foi libertado da prisão domiciliária em que se encontrava desde 29 de agosto, quando o Exército tomou o poder em Libreville e dissolveu as instituições democráticas.
A informação foi avançada pelos golpistas através de um comunicado lido na televisão, na noite de quarta-feira, adianta a BBC.
A libertação foi justificada devido ao “estado de saúde” de Bongo, que sofreu um AVC em 2018. O ex-Presidente, que nos últimos dias pediu à população para “fazerem barulho” contra os militares, passa assim a poder deslocar-se ao estrangeiro para consultas médicas.
O líder do golpe, o general Brice Oligui Nguema, tomou posse como presidente de transição na segunda-feira, numa tentativa de reverter os resultados das últimas eleições gerais que deram mais um mandato a Bongo, que é Presidente do país desde 2009.
O Gabão é um caso típico de nepotismo político. Ali sucedeu ao pai, Omar Bongo, que governou o Gabão, uma nação da África Central, rica em petróleo, durante 41 anos.
A sua deposição, no entanto, foi amplamente condenada em África e o Gabão acabou por ser suspenso da União Africana.
O Reino Unido condenou também a "tomada de poder inconstitucional" e a França, antiga potência colonial, criticou o movimento golpista.
Deste modo, a decisão dos militares de libertar o ex-Presidente não pode ser desligada das pressões exercidas nos últimos dias pela Comunidade Económica dos Estados da África Central (conhecido como ECCAS) e por países vizinhos.
Internamente, porém, o afastamento da família Bongo do poder foi saudado por muitos gaboneses.
Uma investigação de corrupção conduzida pela polícia francesa sobre a família Bongo, durante sete anos, revelou a existência, em França, de 39 propriedades imobiliárias da família e diversos carros de luxo.
Os visados negaram veementemente todas as acusações e a investigação foi arquivada em 2017.
Desde o anúncio da libertação do Presidente deposto pela junta militar, houve pedidos para que ele enfrentasse a justiça por alegações de corrupção, refere a BBC.
"Ali Bongo deve enfrentar a justiça", disse Bouloungui Mouanda Ulrich à BBC na capital, Libreville.
Outro morador, Koumbi Anold, disse que não tinha problemas com a libertação do presidente deposto, mas concordou que ele deveria enfrentar a justiça.
"Estamos esperando, agora somos um povo livre, queremos trabalho", disse.
Logo após o golpe, vários aliados do presidente deposto foram presos, incluindo o filho de Bongo, Noureddin Bongo Valentin, de 31 anos, acusado de alta traição e corrupção.
Em sentido contrário, a junta libertou presos políticos, incluindo o ativista pró-democracia e líder da mais poderosa confederação sindical, Jean Rémi Yama, no início desta semana.