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Portugal poderá ter mais de meio milhão de pessoas confinadas na semana das eleições legislativas, que decorrem no dia 30 de janeiro. A estimativa é avançada à Renascença por Carlos Robalo Cordeiro, membro do grupo de peritos da Ordem dos Médicos e do Instituto Superior Técnico.
Carlos Robalo Cordeiro aponta para a possibilidade do nosso país chegar a um pico de 100 mil casos diários de Covid-19 entre os dias 20 e 24 de janeiro.
“Entre os dias 20 e 24 de janeiro admitimos que possa dar-se o pico desta onda com um número de casos que vai sendo crescente até lá (dia 24) e que aí pode chegar aos 100 mil por dia”, refere o especialista.
Carlos Robalo Cordeiro alerta que, neste contexto de pico da pandemia, “evidentemente que a pressão nos hospitais vai acontecer e prevê-se que os internamentos em enfermaria possam ser o dobro do que são hoje, podendo chegar a cerca de 2.200, e a pressão sobre os cuidados intensivos e as consequências em termos de óbitos não são obviamente tão severas”.
Esta segunda-feira, Portugal registou o maior número de pessoas internadas desde março de 2021.
O diretor do serviço de pneumologia do Centro Hospitalar de Coimbra defende, por isso, a necessidade de se continuar a apostar na vacinação, e lembra que “nós temos mais de 200 mil pessoas com mais de 70 anos sem a dose de reforço da vacina” e que “há uma franja da população não vacinada”.
É com base nesta projeção que Carlos Robalo Cordeiro sugere que cerca de meio milhão de eleitores possam não ter possibilidade de ir votar, por se encontrarem em isolamento e por já não terem possibilidade de solicitar o voto antecipado.
“O problema é daqueles que vão ficar em isolamento uns dias antes das eleições. E se temos o cenário de 100 mil novos casos por dia, nós temos aqui uma previsão de meio milhão de portugueses que poderão ficar privados de votação, ou mesmo mais, pois vão estar em isolamento ou confinamento numa situação em que já não poderão pedir o voto antecipado domiciliário”, esclarece.
O também diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra entende que o cenário traçado para o final do mês favorecerá a abstenção, pelo que sugere que se crie uma logística diferente que permita a votação de todos os que possam entrar em confinamento na semana das eleições.
“Estamos sempre, como é sabido, a tentar inverter as tendências de abstenção que se vem verificando em todo o tipo de eleições. Este não é um convite à abstenção, mas é claramente uma situação que vai favorecer os níveis de abstenção”, sublinha o médico.
CNE pede aos eleitores que peçam voto antecipado
O porta-voz da Comissão Nacional de Eleições (CNE) não receia que o agudizar da pandemia possa fazer aumentar a abstenção nas eleições de dia 30.
Em declarações à Renascença, João Tiago Machado sugere o recurso ao voto antecipado. “As pessoas que temam que podem vir a ver o seu direito de votar sonegado por eventual contágio posterior a dia 23 de janeiro, podem jogar por antecipação e no prazo anterior podem-se inscrever para o voto antecipado em mobilidade que é o voto em que inscrevem-se para poderem ir votar ao município que desejem”, adianta o porta-voz da CNE.
João Tiago Machado sublinha que “essa inscrição não limita os direitos do eleitor, porque “ se as pessoas não poderem ir votar no dia 23 nada de mal lhes acontece porque podem ir votar à mesma no dia 30”.
A legislação em vigor permite ao eleitor que não consegue deslocar-se à mesa de voto pedir o voto antecipado até ao dia 10 de Janeiro. Estão nesta situação os eleitores internados ou presos. Depois, entre 17 e 20 de janeiro, o presidente da câmara municipal ou o seu representante irá deslocar-se ao local onde está o eleitor para entregar e recolher o boletim de voto.
Os eleitores em mobilidade, ou seja, aqueles que estão recenseados em território nacional e que vão estar em mobilidade no dia das eleições, podem pedir o voto antecipado entre 16 e 20 de janeiro. O pedido é feito através da plataforma voto antecipado.
A votação terá lugar a 23 de janeiro, na mesa de voto que escolher, indicando a sua freguesia.