Portugal está a falhar na comunicação da crise climática. É o que entende o coordenador do Observatório do Risco, do Centros de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, José Mendes.
Em declarações à Renascença, este especialista reconhece que “a nível de política pública e de configuração institucional, Portugal está a cumprir”. Já ao nível da comunicação “não”.
“A nível de comunicação do risco e da gestão do risco que afete ou que seja sensível às pessoas no quotidiano aí não, porque as pessoas não são envolvidas, mesmo nos planos de ação a nível dos municípios”, descreve.
José Mendes reconhece que, com cada vez mais eventos extremos, a população está “mais sensibilizada”, mas ainda não é o suficiente.
Este investigador da Universidade de Coimbra refere que “é tudo muito feito 'top down’, ou seja, na perspetiva dos técnicos para cumprir objetivos e as metas que são definidas para as Nações Unidas, para a União Europeia, mas sem envolver as pessoas”.
Olhando para o território,José Mendes nota que, apesar de geograficamente pequeno, a evolução não tem sido positiva, em matéria de proteção do risco.
“O território no geral é um território muito suscetível porque é pequeno, mas tem vários riscos, das inundações à seca, às ondas de calor, às ondas de frio com variações territoriais, é muito suscetível. Tem a população muito concentrada em zonas que são suscetíveis e o crescimento urbano foi feito em zonas em leitos de cheias, em zonas com deslizamentos”, descreve.
José Mendes identifica que, no passado, as populações “que se deslocaram do interior para as cidades não tinham comportamentos de adaptação”.
“Isso criou um território vazio, mas muito suscetível e no litoral que está cheio, 80% da população moram no litoral de Vieira do Minho até lá abaixo a Vila Real de Santo António, estão em zonas que aumentaram a sua suscetibilidade de uma forma acentuada”, reforça.
Olhando para a posição de Portugal, comparativamente com o resto da União Europeia, este especialista refere que não “somos dos piores, estamos a meio”.
O especialista recorda que, nesta matéria, “não há um modelo único”, mas destaca como sendo uma prioridade “aumentar a consciência, a comunicação e a participação das pessoas”.
“Isso faz-se sobretudo nas autarquias. Quase todas têm planos de adaptação às alterações climáticas, mas são muito institucionais, são muito criados numa lógica de cumprir objetivos institucionais e não de alterar verdadeiramente os comportamentos ou de mobilizar as pessoas”, descreve.
O “Compromisso Verde” é uma parceria entre a Renascença e a Euranet Plus.