O bispo auxiliar de Lisboa, D. Américo Aguiar, considerou quarta-feira que os casos de abusos sexuais na igreja católica portuguesa não constituem uma mancha para as Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que se realizam em agosto, em Lisboa.
"Mancha indelével é um jovem ou uma criança ter sofrido um abuso. Para a JMJ e para a notoriedade da igreja, seja lá para o que for, nada se compara ao sofrimento vivido por alguém tenha sido vítima de um crime destes, tudo o resto é secundário", frisou Américo Aguiar.
O presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023, que falava aos jornalistas antes de um encontro com jovens no Instituto Justiça e Paz, em Coimbra, não antevê que o relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica reduza a participação no encontro.
Para Américo Aguiar, as decisões de participação ou não "decorrem no coração de cada um", mas que até à data os "desejos de inscrição" estão a atingir os 500 mil na primeira fase, "sem que houvesse qualquer tipo de reação, nem melhor nem pior".
O líder da organização das JMJ salientou o facto da igreja católica portuguesa ter avançado com a comissão independente e de ter criado todas as condições para que pudesse ser feito o seu trabalho.
"Agora é o momento de lermos o relatório e, de quem de direito, tomar as decisões que são urgentes e inadiáveis para que não volte a acontecer", sublinhou o bispo auxiliar de Lisboa.
"O que devia ser feito foi feito e o que tem de ser feito tem de ser feito, independentemente dos calendários, porque, como dizia há dias, a dor não prescreve, o mal está feito e o que é preciso fazer é impedir que volte a ocorrer", acrescentou.
A esmagadora maioria dos cerca de meio milhão de jovens inscritos são estrangeiros, de 183 países, segundo Américo Aguiar, que gostava de contar com jovens de todos os países da lista oficial das Nações Unidas.
"Tenho pedido muito aos portugueses que confiem que a JMJ é algo muito positivo para os jovens portugueses, não só católicos, mas para a juventude do mundo inteiro", enfatizou.
A JMJ, considerada o maior acontecimento da Igreja Católica, vai realizar-se este ano em Lisboa, entre 1 e 6 de agosto, sendo esperadas cerca de 1,5 milhões de pessoas.
As principais cerimónias da jornada decorrem no Parque Tejo, a norte do Parque das Nações, na margem ribeirinha do Tejo, em terrenos dos concelhos de Lisboa e Loures.
A realização da JMJ tem um custo superior a 150 milhões de euros, segundo as estimativas mais recentes da Igreja Católica (cerca de 80 milhões), do Governo (30 milhões, sem considerar o IVA, que reverte a favor do Estado) e dos municípios de Lisboa (até 35 milhões de euros) e Loures (10 milhões).
As jornadas nasceram por iniciativa do Papa João Paulo II, após o sucesso do encontro promovido em 1985, em Roma, no Ano Internacional da Juventude.
O Papa Francisco estará em Lisboa para participar na JMJ.
Se foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:
- Serviço de Escuta dos Jesuítas, um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia de Jesus.
Telefone: 217 543 085 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa
- Rede Care, projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos/as”.
Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.
Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt
- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores. São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.
São constituídas por especialistas de várias áreas, recolhem denúncias e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.
Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.
Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:
- Projeto Cuidar, do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica
Se pretende partilhar o seu caso com a Renascença, pode contactar-nos de forma sigilosa, através do email: partilha@rr.pt