“O setor da construção nunca atravessou uma situação como esta”, avisou esta quinta-feira o presidente da direção do Sindicato da Construção de Portugal, Albano Ribeiro.
Em conferência de imprensa, o sindicato anunciou que pediu uma audiência urgente à ministra do Trabalho, devido à falta de mão de obra qualificada e aos salários baixos dos trabalhadores no setor.
“Nós vamos a uma obra e só cerca de 20% dos trabalhadores descontam para a Segurança Social”, destaca Albano Ribeiro. “Os restantes trabalham à hora, muitos não descontam e há outros que descontam apenas 15%.”
O sindicalista afirma que “quem ganha dinheiro no setor são os patrões” e não os empresários, explicando a distinção entre uns e outros.
“Os patrões são as pessoas que não pagam subsídios de férias aos trabalhadores, e não dão outros direitos que os trabalhadores têm no contrato coletivo de trabalho aplicável ao setor da construção e obras públicas.”
Porque é que há falta de mão de obra no setor? “Porque o setor não é apelativo”, responde Albano Ribeiro. “Hoje é mais fácil encontrar-se uma agulha num palheiro do que ter um jovem para dar continuidade. O setor da construção civil, neste momento, não tem ninguém a formar operários.”
Isto significa que a idade dos construtores avança sem que apareçam jovens para os substituir. “Já há empresários do setor a pedir, quando as pessoas chegam à reforma, para continuarem a trabalhar, por falta de mão de obra qualificada.”
De acordo com o sindicato, saíram do país 300 mil trabalhadores da construção civil. “Agora eles vão para a Alemanha, ganham quatro vezes mais do que em Portugal. Em França, três vezes mais, e depois levam para lá a família e ficam nos outros países.”
Numa reunião recente com o secretário de Estado do Trabalho, a direção do sindicato pediu que se lance um debate entre a associação empresarial do setor, o sindicato e o Governo, “para que sejam retomados os centros de formação em todas as capitais de distrito”.
70% da mão de obra nunca trabalhou no setor
Chegaram e continuam a chegar milhares de trabalhadores estrangeiros de vários países, da Europa e de fora da Europa, para reforçar o setor. No entanto, Albano Ribeiro refere que “não é dessa mão de obra que Portugal precisa”.
“Pode-se dizer que 70% dessa mão de obra nunca trabalhou no setor da construção”, sublinha o responsável, dando como bom exemplo o caso da Mota-Engil, que forma os trabalhadores na Guiné-Bissau e depois traz os trabalhadores já formados para Portugal. “E é assim que o caminho deve ser”, afirma.
“Neste momento, não muito longe daqui, temos casernas subterrâneas, onde estão 50 pessoas, a pagar 250 euros, com duas casas de banho. Por isso é que dizemos que a situação nunca foi tão dramática no setor da construção.”
O sindicato quer dignificar os trabalhadores que vêm de fora, para que não sejam “escravos contemporâneos”, até porque, tal como os portugueses, “estes trabalhadores merecem trabalhar e ter dignidade”.
“O sindicato não pode ficar impávido e sereno perante uma situação destas. Portanto, de forma qualificada, tem de se fazer uma intervenção.”