O ano letivo começou há cerca de um mês e desde há um mês que se fala da falta de professores nas escolas públicas, com muitas turmas sem aulas a várias disciplinas. Mas este, que é um problema grande para milhares de alunos, está a ser uma oportunidade para os professores que estão nos colégios, que preferem ter o Estado como empregador.
A Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo não quer falar em debandada, mas reconhece que este está a ser um problema sério. À Renascença, o diretor executivo da AEEP admite que “há uma quantidade relevante de professores que neste momento estão a ir para o ensino público, uma vez que há muitas vagas em meio urbano”.
São escolas onde faltam professores, especialmente de informática, geografia, matemática e inglês.
Para perceber a dimensão deste fenómeno, Rodrigo Queiroz e Melo diz que ainda esta semana vai ser lançado um inquérito junto dos associados da AEEP para “perceber a dimensão real do problema no terreno, já que a situação se agravou bastante”.
O diretor executivo da AEEP lembra que o quadro para o país em geral “é muito preocupante, porque existe o risco sério de, nos próximos cinco anos, 40 mil a 50 mil professores saírem do sistema.”
AEEP ao Governo: “Deixem-nos tratar do problema”
Face ao cenário da falta de professores a Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo quer ter mais autonomia para contratar os profissionais, um pedido que quer repetir junto do governo.
À Renascença, Rodrigo Queiroz e Melo explica que os colégios querem transformar este “problema numa oportunidade para trazer talento novo para as escolas”. O diretor executivo da AEEP acredita que “vai enriquecer esta mistura entre pessoas que fazem uma opção pelo ensino muito precoce, portanto, fazem toda a sua formação inicial para serem professores, com pessoas que trazem outra experiência profissional para dentro da escola”, que seriam depois integrados mediante ações de formação especificas.
O ensino público paga melhor
A mudança de entidade patronal é explicada pela FNE pelos melhores salários e pela segurança de um emprego.
À Renascença, o dirigente da Federação Nacional de Educação, José Ricardo defende que, no imediato, os “colégios se adaptem à lei do mercado” e que, por isso, “devem fazer uma oferta melhorada face às condições de trabalho, que estão fixadas no contrato coletivo de trabalho” fechado com a FNE.
Este dirigente sindical explica que a diferença de salários do privado para as escolas públicas ainda é significativa “especialmente nos primeiros 10 anos do ensino público”, acrescentando que “logo no início da carreira a diferença é de 300 euros”.
Mas este é só um dos aspetos que leva à mudança de empregador. Para José Ricardo outra explicação está relacionada com a segurança, já que “no Estado é mais difícil despedir”.