Há um mês, o líder do sindicato de motoristas de matérias perigosas, Dr. Pardal Henriques, lançou a ideia: aproveitar o facto de termos eleições a 6 de outubro para fazer uma nova greve, sem final marcado. Assim, foram interrompidas as negociações e o pré-aviso de greve foi entregue a 15 de julho.
Aproveitando o tempo de que dispunha até a greve se concretizar, cerca de um mês, o primeiro-ministro organizou uma resposta musculada e dramatizou a ameaça grevista. Tem-se repetido o comentário de que, tivesse sido Passos Coelho a proceder do mesmo modo, teria havido uma brutal reação vinda da esquerda. Mas, agora, a esquerda – incluindo o Bloco – reagiu com simpatia, compreensão e brandura.
A atitude firme do primeiro-ministro decorre da evidência de que esta greve é extremamente impopular, afetando a larga maioria dos portugueses. A firmeza de António Costa tem a ver com a oportunidade que esta greve lhe oferece para surgir aos olhos da opinião pública como o defensor dos portugueses, que assim poderão retribuir, dando-lhe uma maioria absoluta em outubro. Mas quem meteu a política no cerne desta greve foi o Dr. Pardal Henriques...
A aposta de A. Costa teria sido ganha a 100% caso a greve fosse desconvocada, perante as medidas anunciadas pelo governo. Mesmo assim, se as coisas não correrem mal para o governo, será um apreciável trunfo do PS nas próximas eleições.
Claro que há riscos de a greve correr mal para o governo. Se houver desacatos e confrontos violentos (que até podem ser obra de gente alheia aos motoristas), se os poderes públicos hesitarem ou, pelo contrário, exagerarem no emprego da força e, sobretudo, se a greve se prolongar por muitos dias, a imagem de “salvador da pátria” de António Costa ficará chamuscada.
Mas A. Costa decidiu correr o risco e é capaz de ganhar a aposta. Deve esta oportunidade ao Dr. Pardal Henriques.