A criação de equipas dedicadas nas urgências “é uma medida estrutural favorável” mas não resolve a conjuntura atual de indisponibilidade dos médicos, avisou esta quarta-feira o diretor da Unidade de Urgência e Medicina Intensiva do Hospital de São João.
Em declarações aos jornalistas à porta de uma urgência que já implementou o modelo de equipa dedicada há 20 anos, Nelson Pereira aplaudiu a medida hoje anunciada pelo ministro da Saúde, Manuel Pizarro, mas avisou que de imediato o país precisa é de um acordo entre médicos e tutela.
“É uma medida estrutural que tem um impacto de médio e longo prazo. A conjuntura que vivemos hoje, da indisponibilidade dos médicos fazerem horas extraordinárias mais do que as previstas legalmente, é algo que não se resolve com este projeto. É algo que tem de ter uma solução entre os médicos e o Ministério da Saúde”, disse o responsável da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ).
E quanto a ‘timings’, o médico foi direto: “Exige-se que se chegue a bom termo muito rapidamente porque as disfunções que se vão somando de Norte a Sul precisam desse acordo [entre médicos e Governo], disse.
O CHUSJ é um dos cinco hospitais hoje mencionados na medida anunciada pelo Ministério da Saúde de criação de equipas dedicadas nos Serviços de Urgência, sendo que este centro hospitalar já tem este modelo implementado há duas décadas.
De acordo com o Manuel Pizarro o arranque do projeto de equipas com médicos a trabalhar em exclusivo nas urgências vai ocorrer até ao final do ano.
Além do CHUSJ, no Porto também será implementado no Santo António.
Já em Lisboa fazem parte da lista o São José e o Santa Maria.
Soma-se o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, com a criação de Centros de Responsabilidade Integrados (CRI).
“Somos completamente a favor quanto mais não seja porque temos uma história de mais de 20 anos no nosso hospital em que implementamos esse projeto (…). Ao longo dos últimos 10 anos as condições ideais que estavam reunidas quando se implementou este projeto foram progressivamente perdidas à medida que tivemos progressivamente menos capacidade para de forma autónoma atrair médicos e os fixar nos serviços de urgência”, disse Nelson Pereira.
O médico defendeu que “do ponto de vista organizacional não há dúvida nenhuma que ter pessoas que fazem todo o seu horário no Serviço de Urgência cria mais pertença”, mas insistiu: “Neste momento esta medida não tem nada a ver com a resolução imediata do problema que vivemos nos Serviços de Urgência”.
O médico alertou que “com a disfunção de muitos anos só é possível manter níveis de cuidado e de qualidade com recurso a muitas horas extra”.
“Tem de ser objetivo de todos que possamos voltar a contar com todos os médicos que sempre fizeram e esperamos que possam voltar a estar disponíveis para fazer. Vamos continuar a precisar desses médicos e esse processo tem de ser encerrado a muito curto prazo”, disse.
Nelson Pereira disse ter “esperança que nos próximos dias se chegue a um acordo para que os médicos que sempre deram o seu melhor no Serviço de Urgência continuem a fazê-lo”.
“Distinto disso é olhar para o médio e longo prazo e aí não tenho dúvidas que as equipas dedicadas são um caminho”, resumiu.
Além deste alerta, o responsável da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva do CHUSJ falou da necessidade de retirar doentes das urgências e recordou a discussão à volta da criação de uma especialidade em medicina de urgência.