O valor da prestação da casa que os portugueses vão pagar a partir de outubro vai disparar. É a consequência imediata da subida história da Euribor em 75 pontos base, anunciada esta quinta-feira pela presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde.
É o segundo aumento consecutivo deste ano e o maior aumento de sempre nas taxas da zona euro.
As simulações enviadas à Renascença pela associação de defesa dos consumidores, Deco, revelam que até ao final do ano − quando se prevê que a Euribor a 6 meses (taxa referência em Portugal e que vale metade do mercado de empréstimo habitação) atinja os 2% − a subida da prestação mensal poderá variar entre os 60 euros e os 150 euros.
A referência dos 2% da taxa Euribor é um valor que, segundo o economista da Deco Nuno Rico, será atingido até ao final do ano mantendo-se o atual cenário.
Segundo os cálculos da Deco, que consideram um exemplo de um financiamento a 30 anos, com um spread de 1%, os valores das respetivas prestações serão os seguintes, comparando com os valores do presente mês de setembro:
- Financiamento de 100.000€:
- Financiamento de 150.000€:
- Financiamento de 200.000€:
- Financiamento de 250.000€:
"O que se espera é que no final deste ano já possamos ter um agravamento na prestação das famílias, que poderá rondar pelo menos cerca de 50 euros, comparando com os valores de setembro de 2022, mas que dependendo do montante de financiamento e, por exemplo, num financiamento de valor acima dos 200 mil euros, poderemos estar a falar de um agravamento mais de 150 euros na prestação mensal", afirma à Renascença o economista Nuno Rico.
O especialista da Deco alerta para que esta subida está a ser mais repentina do que era esperado pelas famílias, o que poderá causar problemas adicionais. "Há três meses, projetava-se os 2% para o primeiro semestre de 2023, o que agora poderá ser uma realidade, daqui a dois ou três meses", avança.
Mais dificuldades para as famílias
Rico não tem dúvidas de que a subida da Euribor trará "dificuldades acrescidas às famílias que se vão ter que preparar para este cenário".
Ainda para mais não se perspetiva que as subidas fiquem por aqui. Em comunicado, o BCE antecipa já que os juros vão continuar a subir: “o Conselho do BCE espera, nas próximas reuniões, voltar a aumentar as taxas de juro para atenuar a procura e prevenir o risco de uma persistente deslocação em sentido ascendente das expectativas de inflação”, tendo em conta o regresso da inflação ao objetivo dos 2%.
"Podemos estar aqui novamente perante um novo período em que as famílias terão dificuldade de fazer face aos custos dos seus empréstimos e que não vão conseguir fazê-lo", lamenta o especialista da Deco.
Será uma realidade mais vivida para as famílias cujos rendimentos "não acompanhem esta evolução ou que, por exemplo, já contrataram créditos no limite da taxa de esforço". "É uma situação que estamos a acompanhar com muita atenção", acrescenta Nuno Rico.
O economista espera que "não se repita o que aconteceu em 2011, 2012 e 2013, em que as famílias não conseguiram cumprir os seus contratos de crédito".
Para os que perspetivam passar por dificuldades, a Deco recomenda uma "atitude proativa para evitar essas situações".
Segundo o BCE, “a inflação permanece demasiado elevada, sendo provável que se mantenha acima do objetivo durante um período prolongado”.